Novembro, 2024 - Edição 303

Paisagem e Memória de Cristina Canale na Casa Roberto Marinho

O público tem até o dia 17 de novembro para visitar, na Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, Rio de Janeiro, duas exposições simultâneas em torno da artista plástica carioca Cristina Canale, comemorando as quatro décadas de carreira da pintora, radicada há mais de 30 anos na Alemanha.

As mostras paralelas centram-se em dois atos. A exposição Paisagem e memória, no térreo, apresenta a faceta curadora de Cristina Canale, que multiplica os olhares sobre a Coleção Roberto Marinho, estabelecendo uma ponte entre diferentes períodos da arte.

Ocupando quatro salas, a seleção de cerca de 40 obras compõe o que Canale chama de “inconsciente estético”, transformando o espaço em uma colagem de memórias e afetos. Elementos estéticos e temáticos criam um fio condutor que dá o tom da conversa entre os diferentes artistas.

Na primeira sala, o volume é o ponto em comum entre as obras. A segunda sala realça texturas através da série de desenhos (Sem título, 1940) em que Guignard representa a vegetação do Jardim Botânico; da grandiosa tela O riacho (1986), de Jorge Guinle; e da autoral Está tudo cinza sem você (1986). Também são exibidos alguns desenhos de observação de Cristina, feitos em papel na década de 1980, a partir de paisagens cariocas.

A terceira sala é regida pelos contrastes. Na última sala, Canale propõe um diálogo com os jardins da Casa. Para isso, abre as janelas para as plantas e flores pintadas por Burle Marx (Sem título, 1941) e Guignard (Sem título, 1936-1937). Completam a seleção uma serigrafia ornamental de Luiz Aquila (Em casa, 2017) e uma escultura de Frans Krajcberg (Sem título, 1971).

Cristina Canale: dar forma ao mundo

Em Dar forma ao mundo, a curadoria de Pollyana Quintella se propõe a traduzir as diferentes fases da trajetória da artista, através de cerca de 50 obras.

Ao longo dessas quatro décadas, Canale usou as telas, tintas e pincéis para resolver questões subjetivas por meio de sua prática. Como resume Quintella em seu texto de apresentação, a artista vem transitando “da pintura matérica à linha, da linha à forma, da forma ao mundo”.

Orientado por essas fases de trabalho, o recorte curatorial é fisicamente conduzido pela arquitetura da Casa Roberto Marinho, cujo hall do primeiro andar marca o início e o fim da exposição. São sete salas que se interligam de forma circular e segmentam em capítulos os diferentes períodos da pintura de Canale, dando conta da transformação dos processos artísticos. Apesar de traçar uma linha do tempo, Dar forma ao mundo leva o público a desviar o olhar através de pequenas fendas, onde se inserem trabalhos de períodos diferentes.

Sobre Cristina Canale

Carioca, nascida em 1961, Cristina Canale ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no início dos anos de 1980, quando a pintura se firma como a linguagem por excelência da nova geração. Em 1984, a participação na mostra Como vai você, Geração 80? marca o início de sua trajetória profissional. Seus primeiros trabalhos são colagens sobre papel com figuras femininas. Tendo como referências a paisagem carioca, a arquitetura urbana e imagens da história da pintura, produz, no fim da década, grandes telas com forte carga matérica.

Em 1993, em busca de novos desafios, muda-se para a Alemanha. Estuda em Düsseldorf e se instala em Berlim, onde vive até hoje. Sua obra passa por uma mudança radical. A densidade das telas anteriores cede lugar a espaços fluidos. As formas passam a estruturar a superfície, juntamente com a cor.

Nos anos 2000, conduz seu trabalho como uma investigação permanente e assim problematiza dicotomias inerentes à história da pintura, como a abstração e a figuração, diluindo seus limites. Ao retomar a figura feminina, em tempos mais recentes, interroga o conceito do retrato, tradicional gênero pictórico, ao mesmo tempo que introduz novos materiais e formas de trabalhar as superfícies, num incessante movimento de experimentação e reflexão, simultaneamente visual e profundamente intelectual.

SERVIÇO:

Paisagem e memória, um olhar sobre a coleção Roberto Marinho (térreo)
Curadoria: Cristina Canale
Cristina Canale: dar forma ao mundo (1º andar)
Curadoria: Pollyana Quintella
Encerramentos: 17 de novembro de 2024

Instituto Casa Roberto Marinho
Rua Cosme Velho, nº 1105 – Rio de Janeiro | RJ
Tel: (21) 3298-9449
Visitação: terça a domingo, das 12h às 18h
(Aos sábados, domingos e feriados, a Casa Roberto Marinho abre a área verde e a cafeteria a partir das 9h.)

Por Manoela Ferrari - Fotos: Selmy Yassuda