Setembro, 2024 - Edição 302
Os longos silêncios do amor
O amor falastrão murcha,
E se converte em longos silêncios
prenhes de telepatia e de leitura corporal.
O último silêncio é inútil e fatal,
E aduba tantas palavras não ditas ante o fútil.
O luto é uma túnica com o texto inconsútil.
Sem alguém para amar à vera,
Nenhum lugar do mundo presta.
Por isso guarde na lembrança o que do amor resta
e sempre que se lembrar, o amor vira floresta
e campos, e cidades, e animais, e qualquer lugar por demais resta.
Sua ausência transforma o que há de bom nos longos silêncios
em um vazio sem sentido.
Sua volta preenche de alegria o entorno colorido
do que vale a pena ser vivido.
O amor inspira,
Mas é quando ele expira
que avaliamos o valor do seu sopro,
Se o seu hálito é balsâmico ou o bafo ardente de um ogro.
E no intervalo entre expirar e inspirar,
Ele respira nas entrelinhas
e se eterniza, ou se apaga sua velinha.
Cada história de amor é pessoal.
Feita mais de trivialidades e da rotina informal.
Mas episódios épicos a recortam em um outro mundo
feito de poesia, de sonhos e de almas e do veludo
do barulho do mar, sempre novo, mágico e surdo
pela repetição contínua de seu poderoso ruído.
A presença da pessoa amada
inverte os silêncios por onde o amor trafega
e os torna pausa entre as notas harmônicas
da elétrica sinfonia do amor eterno
a que sua presença lépida me entrego.
Da mesma forma que entre duas notas
existe uma nota que é o silêncio,
Entre o inspirar e o expirar o ar,
Na ausência de movimento nos pulmões,
Assim também na falta de fôlego residem
os longos silêncios do amor,
Transubstanciados no alicerce que dá sentido
às palavras e à comunhão dos corpos.
Pois só nos longos silêncios ouvimos
a abissal e profunda
respiração do mundo:
Seu êxtase amando em tudo.