Julho, 2024 - Edição 301

Uma Vila, um Velho Capitão

A terceira cidade mais antiga do Brasil, Vila Velha, celebrou seus 489 anos, em 23 de maio último, o dia da chegada de Vasco Fernandes Coutinho em 1535, ao litoral de sua capitania, doada pelo rei em 1º de junho do ano anterior. Fidalgo da Casa Real, Vasco Coutinho teria se destacado nas conquistas portuguesas na África e Ásia, conseguindo assim o título e também a doação da capitania. Prefiro usar o termo celebrar, rememorar (ao invés de comemorar), devido à polêmica do tema colonização. Temos sim que rememorar as conquistas desse Velho Capitão, na Vila do Spiritus Sanctus, primeiro nome dado às terras capixabas naquele ensolarado domingo de outono de Pentecostes.

Nascido em 1488, já estava com 45 anos quando desembarcou nas terras que seriam da Vila do Espírito Santo, hoje a nossa querida Vila Velha, com os seus 60 homens aventureiros, de índole duvidosa, conhecidos como degredados, ou seja, indesejáveis em solo lusitano, mas com a presença dos fidalgos de sua confiança, como também especialistas em ouro e pedras preciosas, haja vista as possibilidades de se ter ouro em terras de além mar. E assim, deu-se início à história de todos nós capixabas e canelas-verdes.

Após a travessia atlântica, aportou na Bahia em busca de lugar seguro e abrigável, onde poderia tomar posse da sua Capitania, que lhefora doada pelo Rei D. João III, terras virgens, onde a natureza falava sozinha, na plenitude da sua exuberância. Uma mata deslumbrante, com gigantescas árvores, a se balançarem com seus galhos seculares nas margens da baía, como se beijassem o mar de acordo com o fluxo das marés. Floração das arvores matizava o verde das florestas que tomavam literalmente as suas praias.

Dava-se início uma grande saga de 26 anos, em uma enorme capitania tendo urgência de ser povoada. Diversas vezes voltou a Portugal procurando recursos para poder também explorar o ouro do sertão (Minas), e nessas ausências, sem a sua liderança e justiça, os indígenas Goytacazes se revoltam, e destroem quase tudo que Vasco Coutinho teve que reconstruir por mais de uma vez. Faleceu, aos 71 anos, o velho capitão Vasco Fernandes Coutinho, mas os seus esforços não foram em vão. As duas povoações por ele iniciadas, Vitória e Vila Velha, são hoje orgulho de nós capixabas. Foi enterrado provavelmente em sua própria residência (na hoje Praia do Ribeiro, Praia da Costa) como era o costume da época.

Pouco mais de cem anos passados após o seu falecimento, Francisco Gil Nunes, primeiro Donatário da Capitania do Espírito Santo, após esta ter sido vendida pelos descendentes de Vasco Coutinho, mandou refazer a Casa da Câmara, em Vila Velha, e deu condigna sepultura aos ossos de Vasco Fernandes Coutinho, que estavam soterrados em uma arca. Temos também controvérsias quanto a esse fato. Historiadores dos tempos atuais afirmam que os ossos do velho capitão Vasco Coutinho estavam em Vitória, na Casa da Misericórdia, que foi demolida dando lugar à sede da Assembleia Legislativa do Estado. Como podemos observar pelos relatos históricos, é duvidosa a afirmativa de que Coutinho morrera na miséria, haja vista a sua família ficar à frente da Capitania do Espírito Santo por quase 140 anos, apesar das imensas dificuldades e mesmo assim alcançando relativo progresso. (Fonte: escritos de Willis de Faria).

Por Manoel Goes Neto, escritor, produtor cultural e diretor no IHGES