Maio, 2024 - Edição 300

Dois encontros de escritores em Arinos

A ideia do Encontro de Escritores em Arinos surgiu em 2020. O escritor arinense Napoleão Valadares, há anos residindo em Brasília, já havia conseguido o apoio do prefeito Carlos Alberto Recch Filho, mas surgiu a pandemia de Covid-19 e o evento foi adiado. Aconteceu dois anos depois, com a indispensável colaboração do prefeito Marcílio Almeida. E assim pegamos a estrada de Brasília para Arinos, na tarde de 19 de maio de 2022. Éramos, na viatura, 13 escritores: Adirson Vasconcelos, Cristóvão Naud, Fabio de Sousa Coutinho, Kátia Luzia Lima Ferreira, Luiz Paulo Pieri, Luiz Valério, Marcelo Perrone Campos, Marcos Sílvio Pinheiro, Mauro de Albuquerque Madeira, Wilson Pereira e o autor destas linhas.

Em Arinos, nos aguardavam Napoleão Valadares, o idealizador e coordenador do acontecimento, e sua esposa Marlene Fonseca Valadares, eficiente e atuante colaboradora. Em Arinos teríamos a companhia dos escritores locais Adão Batista, Bira Fonseca e Jaques Valadares.

No dia 20, de manhã, abriu-se o encontro, com a presença do prefeito e destacados membros da administração municipal na área de educação e cultura. Ao longo do dia, tivemos quatro palestras, com auditório cheio, presentes dezenas de jovens estudantes e seus mestres e mestras. Anderson Braga Horta efetuou um voo panorâmico sobre A Literatura Brasileira; Eugênio Giovenardi debruçou-se, com sua experiência de ecossociólogo, sobre A Água do Urucuia; Marcos Sílvio Pinheiro abordou o tema Antônio Dó, um Jagunço Urucuiano; Wilson Pereira enfocou A Obra de Guimarães Rosa. Cumpre registrar que a palestra de Anderson foi lida por Maria José Aguiar e a de Eugênio por Polyana Fonseca Valadares. Acompanhados de numerosas pessoas, os escritores visitaram o Museu Histórico de Arinos, com a gentil assistência de funcionários da Secretaria Municipal de Cultura.

Durante o Encontro, nenhum livro foi vendido. Numa louvável ação de beneficência, foram doados mais de cem e sorteados vinte. Oslivros sorteados eram de autores falecidos, constituindo a escolha uma homenagem a eles. Com a palavra, Napoleão Valadares: “A finalidade do Encontro, como se viu, foi trazer ao nosso povo, principalmente à classe estudantil, mais conhecimento sobre os assuntos tratados nas palestras, todas com temas relacionados à nossa região.” Pouco tempo depois, saía, pela Editora André Quicé, de Brasília, um livro intitulado Encontro de Escritores em Arinos, organizado por Napoleão Valadares.

No ano seguinte, 2023, aconteceu o II Encontro de Escritores em Arinos, que também contou com o valioso apoio do prefeito Marcílio Almeida e outras autoridades. Com grande satisfação, voltei a Arinos e vi novamente o rio Urucuia, celebrizado por João Guimarães Rosa nesta frase, que encontramos à beira da estrada, à chegada de Arinos: “Rio meu de amor é o Urucuia.” É mais que uma frase, é um verso carregado de magia e encantamento.

Dessa vez, lá estávamos Adirson Vasconcelos, Ariovaldo Pereira de Souza, Carlos Viegas, Edmílson Caminha, Fabio de Sousa Coutinho, Kátia Luzia Lima Pereira, Marcelo Perrone Campos, Maurício Melo Júnior, Mauro de Albuquerque Madeira, Xiko Mendes, Wilson Pereira, Wilson Rossato e este escriba marianense.

Nesse novo Encontro, Edmílson Caminha discorreu sobre A Poesia de Carlos Drummond de Andrade; Marcelo Perrone Campos ministrou uma aula a respeito de O Romantismo no Brasil; Xico Mendes percorreu o amplo e rico campo de tesouros que denominou São Romão e Paracatu na Formação de Municípios; e o autor destas linhas teve a satisfação de palestrar sobre Afonso Arinos e o Sertão.

Renovamos a alegria do encontro com estudantes, professores, autoridades, um vasto público. Voltamos a ver as belas atrações do Museu Histórico. Foi, realmente, como da primeira vez, um sucesso, um evento de larga repercussão.

Numa visão de hoje, sinto que aqueles dois inesquecíveis Encontros de Escritores em Arinos constituíram uma inspiração, estão no nascedouro de uma ideia que acaba de se tornar feliz realidade: a fundação da Academia Urucuiana de Letras, aqui em Brasília. Seus fundadores estão cumprindo um importante papel cultural na história da região. Em assembléia, eles elegeram, com sabedoria, seu primeiro presidente, Napoleão Valadares, um paladino dos valores urucuianos. Estou certo de que sob as bênçãos de Guimarães Rosa, patrono de uma cadeira da Academia. A frase de Guimarães Rosa, na verdade um lírico e bucólico verso, fulgura como um lema no imaginário estandarte da Academia Urucuiana de Letras: “Rio meu de amor é o Urucuia.”

Por Danilo Gomes, membro da Academia Mineira de Letras.