Maio, 2024 - Edição 300

Adeus a Ziraldo, o eterno bom menino

Ziraldo, um dos maiores fenômenos editoriais no Brasil, criador do célebre “Menino Maluquinho”, representa uma das maiores perdas da literatura brasileira desses últimos tempos. Um dos escritores infantis mais conhecidos do mundo, com obras traduzidas para diversos idiomas, o eterno “bom menino” morreu em casa, dormindo, aos 91 anos, no dia 6 de abril. O humor e a crítica estão unidos na plasticidade de suas obras. Premiado pelo seu trabalho na literatura e no humor, atuou intensamente na ilustração de livros, elaboração de materiais educativos, criação de charges, caricaturas e logos, como o ícone da ecologia apresentado na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Com quase 200 obras publicadas, Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais, no dia 24 de outubro de 1932. A origem do nome, tão diferente, surgiu da combinação dos nomes da mãe, Zizinha e o do pai Geraldo. Desde criança, já mostrava talento artístico. Com seis anos, teve um desenho publicado no jornal Folha de Minas. Adulto, largou o diploma de Direito para dedicar-se ao desenho.

Carreira

A carreira começou na revista Era Uma Vez, quando fazia colaborações mensais. Em 1954, começou a trabalhar no jornal Folha da Manhã (hoje Folha de S. Paulo), desenhando em uma coluna de humor.

Depois de trabalhar na Manchete Esportiva, em 1957, foi para a revista O Cruzeiro, publicação de grande prestígio na época. Nesse mesmo ano, formou-se em Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. Em 1958, casou-se com Vilma Gontijo (ficou casado até o ano 2000), com quem teve três filhos, Daniela, Antônio e Fabrízia.

Depois, casou-se com Márcia Martins da Silva. Em outubro de 1960, lançou a primeira revista brasileira de quadrinhos e colorida, de um só autor, intitulada Pererê. As histórias da revista já vinham sendo publicadas em cartuns nas páginas da revista O Cruzeiro, desde 1959.

Segundo o próprio Ziraldo em sua autobiografia, o “Pererê” era um dos símbolos da época. Um tempo em que se acreditava que, pelas ideias, poderia se mudar a história. Hoje, as histórias do Pererê fazem parte da memória nacional, tendo marcado uma fase na história deste tipo de publicações no Brasil.

Vivendo no Rio há mais e 50 anos, Ziraldo era carioca por adoção. Para ele, o melhor da cidade eram os cariocas, que o autor considerava como uma “entidade”: “A alma da cidade.” O AVC, sofrido pelo cartunista, em 2018, no Rio, pegou todos de surpresa, porque ele sempre teve boa saúde. Recentemente, disse em entrevista: “A velhice é uma coisa que acontece de surpresa.”
Descanse em paz, mestre.

Por Manoela Ferrari