Maio, 2024 - Edição 300

A historiadora Lilia Schwarcz na ABL

Eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL) com 24 votos dos 38 possíveis, a historiadora e antropóloga Lilia Katri Moritz Schwarcz vai ocupar a cadeira número 9, na vaga aberta com o falecimento do saudoso acadêmico Alberto da Costa e Silva (1931-2023), que também era historiador. Lilia garantiu o favoritismo e superou o diplomata e escritor Edgar Telles Ribeiro, que somou 12 votos. Além deles, também concorriam Chirles Oliveira Santos, Ney Suassuna, Antônio Hélio da Silva, J. M. Monteirás e Martinho Ramalho de Melo.

Emocionada, após receber a notícia, a nova imortal declarou: “Não é segredo para ninguém que essa minha candidatura é em honra ao Dr. Alberto da Costa e Silva, para mim faz um imenso sentido entrar na vaga dele. Ele era meu pai espiritual, meu pai intelectual, meu pai afetivo. Gostaria muito de seguir os seus passos e cuidar, em primeiro lugar, da memória. Vasculhar os arquivos como ele fazia e contar uma história mais múltipla. A ABL é fundamental para a memória do país.”

Schwarcz destacou, ainda, o simbolismo de ter sido eleita um dia antes do Dia Internacional da Mulher: “Como antropóloga, acredito muito na eficácia simbólica. Sabemos que o voto feminino tardou na ABL, como em tudo. Somos poucas ainda. Acho que a gente pode incluir, sem excluir ninguém. Há uma memória feminina para ser trabalhada. É uma imensa responsabilidade para mim.”

A acadêmica Heloisa Teixeira comemorou a eleição de mais uma mulher para a Casade Machado, sendo a quinta mulher da atual composição da ABL: “Estou muito feliz. A bancada de mulheres está aumentando e Lilia vai aprontar.”

Outros imortais também comentaram o resultado. “A Lilia é uma grande historiadora que já chega com uma tarefa que a gente vai dar a ela. A gente está fazendo uma iconografia de Machado de Assis e ela vai assumir este trabalho”, disse o presidente da ABL, Merval Pereira, após a eleição. “Queríamos mais mulheres, porque perdemos recentemente várias de nossas confreiras e tínhamos uma dívida com a representatividade da mulher”, acrescentou.

O acadêmico Arnaldo Niskier observou que “a ABL perdeu o diplomata Alberto da Costa e Silva, que foi grande historiador e grande acadêmico e ganhou agora uma nova historiadora”. Nascida em São Paulo, em 1957, Lilia Moritz Schwarcz é professora sênior do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e Global Scholar (de 2008 até 2018) e atualmente Visiting Professor em Princeton.

Recebeu, entre outras distinções, a Comenda do Mérito Científico em 2010; a medalha Júlio Ribeiro (por destaque cultural e etnográfico) da Academia Brasileira de Letras, em 2008; e a Comenda Rio Branco 2023. Faz parte do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (Iphan) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da República.

Com uma vasta produção acadêmica, abordou, ao longo da carreira, temas como a história do Brasil colonial, a escravidão, a cultura popular e as questões raciais. Publicou mais de 30 livros, entre eles: Retrato em Branco e Negro (1987); Espetáculo das Raças (1993. Prêmio APCA); As Barbas do Imperador (1998, Prêmio Jabuti livro do ano e Farrar Strauss & Girroux 2000); O Sol do Brasil (2008, Prêmio Jabuti); Brasil uma Biografia (com Heloisa Starling, 2015, finalista Prêmio Jabuti); Um Enigma Chamado Brasil (com André Botelho, 2010. Prêmio Jabuti); A Batalha do Avaí (2013, prêmio Academia Brasileira de Letras), Dicionário da escravidão e da Liberdade (com Flavio Gomes, 2018, finalista Jabuti); Lima Barreto Triste Visionário (2018, prêmio Biblioteca Nacional, prêmio Anpocs, finalista Jabuti); Sobre o Autoritarismo no Brasil (2019, finalista Jabuti), Bailarina da Morte: A gripe espanhola de 1918 (com Heloisa Starling, 2020, finalista Jabuti), Enciclopédia Negra (com Flávio Gomes e Jaime Lauriano, 2021, Prêmio Jabuti); Óculos de Cor: Enxergar e não ver (2022, prêmio Jabuti).

Por Manoela Ferrari