Dezembro, 2023 - Edição 298

Entrevista com Luiz Gustavo Copolla

Entrevista transmitida em nível nacional, no Programa Identidade Brasil, apresentado por Arnaldo Niskier no canal Futura

O primeiro emprego



Arnaldo Niskier: Hoje recebemos a visita de Luiz Gustavo Coppola, superintendente do CIEE – Centro de Integração Empresa Escola do Rio de Janeiro, órgão muito importante. Como é a sensação de administrar um órgão do relevo do CIEE?

Luiz Gustavo Coppola: Fazer a gestão de uma organização como o CIEE, que dia 1º de outubro completou 59 anos, é uma honra, é um sentimento de vitória de que alcançamos o topo da Pirâmide de Maslow, aquela de autorrealização. Hoje só queremos entregar para a sociedade brasileira tudo o que recebemos. O CIEE nasceu com o propósito de ajudar as pessoas a ingressarem e se capacitarem para entrar no mercado de trabalho em melhores condições.

Arnaldo Niskier: Que chamávamos de primeiro emprego.

Luiz Gustavo Coppola: É, desse momento divisor de águas entre o mundo da educação e o mundo do trabalho, não que você saia de um mundo para entrar em outro. Precisamos permanentemente estar nos capacitando, estudando, mas há o choque de cultura, quando se está só no mundo acadêmico e vai para o mundo de trabalho, que tem outra dinâmica, outra velocidade...

Arnaldo Niskier: O CIEE depende do governo? É financiado pelo governo?

Luiz Gustavo Coppola: Absolutamente. O CIEE depende exclusivamente da sua contribuição, prestação de serviços para a sociedade. A sociedade empresarial que percebe no CIEE uma plataforma em que vai descobrir seus novos talentos, seus futuros profissionais, são essas empresas – privadas e públicas também – que, ao contratar estagiários e jovens aprendizes, contribuem com a existência e a manutenção do CIEE.

Arnaldo Niskier: Hoje são quantos estagiários e aprendizes no Rio de Janeiro?

Luiz Gustavo Coppola: Temos hoje 40 mil jovens que saíram de sua residência e foram para as empresas aqui do estado do Rio de Janeiro, para um programa de estágio ou para um programa de aprendizagem. É uma das principais ações de inclusão de jovens no mercado de trabalho. Temos muito orgulho desse resultado, mas também temos uma fila de mais de 450 mil jovens, aguardando oportunidade do primeiro emprego. Então o CIEE faz um movimento de sensibilizar os empresários, na verdade, é uma sensibilização ou levá-los a consciência de que as empresas precisam de bons profissionais, de profissionais atualizados tecnologicamente e o estagiário é esse profissional. Até hoje, nesses 59 anos, mais de 5 milhões de jovens começaram sua carreira profissional através do programa de estágio do CIEE. Fico muito orgulhoso de visitar hoje um empresário, um dirigente de empresa, de uma associação de classe, um educador, um juiz, um desembargador. O desembargador ex-presidente do Tribunal de Justiça, Luiz Zveiter, foi estagiário do CIEE, me contou isso com muito orgulho. Hoje o CIEE coloca em programa de estágio mais de 4.500 estudantes de Direito.

Arnaldo Niskier: : Foi uma coisa recente, o Tribunal de Justiça saiu do sistema do CIEE e agora voltou pelas suas mãos. Como foi isso?

Luiz Gustavo Coppola: Claro que a administração pública, essa parceria, muitas vezes é decorrente de uma licitação e, em uma licitação, você tem um ganhador e uma empresa que fica em segundo ou terceiro lugar. Entendemos que o programa do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro exigia uma qualidade, um comprometimento, uma assertividade e, infelizmente, uma outra organização que não é do estado do Rio de Janeiro entendeu que poderia atender o Tribunal de Justiça de qualquer forma e venceu essa licitação, preço baixo, qualidade de serviço mais baixo ainda. O Tribunal viveu essa infelicidade por alguns meses, mas logo rescindiu o contrato. Percebeu que preço baixo não significa qualidade. Retomei o contrato com 4.500 jovens, a maioria estudante de Direito. É o maior parceiro do CIEE no programa de estágio. Muito bom ver que muitos empresários, gerentes de recursos humanos, diretores de recursos humanos, vice-presidentes de empresas começaram sua carreira como estagiário do CIEE. Tem essa memória afetiva, quando vê a logomarca, uma matéria, um programa do CIEE, acompanha o CIEE nas redes sociais, e fala: “Vou dar uma oportunidade para o jovem porque tive essa oportunidade, alguém me deu essa oportunidade.” Falar do CIEE é falar com muita facilidade, é um prazer.

Arnaldo Niskier: Você se formou em São Paulo. São Paulo tem uma cultura típica, própria e é natural que isso aconteça, um estado do tamanho de São Paulo. Você veio para o Rio de Janeiro com uma outra preocupação ou cultura, vamos dizer assim. Queria que você contasse bem qual a diferença que existe entre o trabalho em São Paulo e no Rio de Janeiro. Antes de sua resposta, quero matar outra curiosidade, Coppola. Esse nome é muito familiar às pessoas que lidam com cinema internacional. Você é parente do Coppola italiano?

Luiz Gustavo Coppola: Temos um parentesco, sim, com muito orgulho. Meu avô veio da região da Campânia, na Itália, trabalhou nas fazendas do Matarazzo e depois, assim que terminou a Segunda Guerra, foi convidado a administrar uma das fazendas do Matarazzo aqui no Brasil e veio com meu pai, minha madrinha, a única irmã do meu pai. Brincamos, dizendo que a parte pobre da família Coppola veio para o Brasil e a parte rica ficou na Itália, como cineasta que, aliás, faz bons vinhos, está nos Estados Unidos. E aquela história que diz que a evolução é contínua, a filha do Coppola, a Sofia Coppola, também é uma diretora de cinema fantástica. Já conversamos por telefone, nos admiramos, sou fã de todos os filmes que ela fez, são excelentes e ficamos com muito orgulho de que o Coppola tenha traduzido também os livros do Mário Puzo. Não podemos esquecer que foi ele que escreveu os livros, os roteiros que viraram os filmes, a trilogia O poderoso chefão. Fico muito orgulhoso de fazer parte dessa linhagem.

Arnaldo Niskier: Quantos anos você trabalhou no CIEE de São Paulo?

Luiz Gustavo Coppola: No CIEE de São Paulo, foram 37 anos e agora quase 1 ano aqui no Rio de Janeiro e acho que mais uns 30 vou tocar. Essa mudança que fiz do estado de São Paulo para o Rio de Janeiro foi fechar com chave de ouro uma jornada que começou em São Paulo, na década de 1985. Fui estagiário no CIEE, fiz toda uma carreira, cheguei à superintendência nacional e assumi a presidência executiva, a gestão executiva aqui do Rio de Janeiro sob os comandos e orientação de Andreia Niskier, é uma realização profissional fantástica.

Arnaldo Niskier: O Globo e a Folha de São Paulo lidam semanalmente com o tema educação média, a Reforma do Ensino Médio em nosso país. E custa. Essa reforma já foi, já veio, criam coisas, como itinerários formativos. Pensamos que é uma grande inovação e depois o próprio governo recua. Como é essa ligação do CIEE com a educação do nosso estado?

Luiz Gustavo Coppola: Como o CIEE tem um compromisso com o jovem, nada mais forte do que manter uma relação muito próxima aos Ministérios da Educação, do Trabalho, e a questão da Reforma do Ensino Médio, o que entendemos no CIEE... Primeiro que as notícias que têm que chegar para o jovem, têm que chegar de uma maneira mais positiva, chegar de uma maneira que a educação que transforma vidas, que a educação é que vai ajudá-lo a ser um bom profissional, bem qualificado, com uma carreira de sucesso e bem remunerado no mercado de trabalho. A Reforma do Ensino Médio deveria ter um propósito principal que é atrair o jovem para a formação média e técnica

Arnaldo Niskier: Como é que você, como técnico, superintendente, encara o emprego da tecnologia na educação dos nossos jovens, sobretudo em nível intermediário ou médio? Tem tanta coisa bonita acontecendo, inteligência artificial, internet. A realidade virtual hoje é um acontecimento. Como isso bate no seu espírito?

Luiz Gustavo Coppola: Bate muito bem, porque, apesar da instituição que represento estar completando 59 anos, ela é sempre jovem, trabalha para o jovem, com o jovem se renovando, inclusive se atualizando tecnologicamente sempre. O jovem hoje tem outro modo de absorver conhecimento, está ativo nas plataformas, se capacita a distância. É um jeito diferente do nosso tempo, que também entrega. No CIEE, também nos atualizamos tecnologicamente, já vínhamos fazendo isso e, com a pandemia, os processos, como em todas as empresas, hoje se acelerou. Então o jovem pode ter uma jornada no CIEE de inscrição, capacitação, porque temos mais de cem cursos de formação para o mundo do trabalho, desde como preencher um currículo, como gravar uma entrevista de apresentação até um pacote office.

Arnaldo Niskier: Qual é o maior curso que tem o CIEE?

Luiz Gustavo Coppola: Comportamental. Administração do tempo, como lidar com as pressões do dia a dia, como trabalhar em grupo. Como a máxima do mercado hoje é contrate caráter e desenvolva competências, o CIEE investe muito no desenvolvimento comportamental atitudinal do jovem, é o que se chama soft skills. Ele pode fazer tudo isso na nossa plataforma, sem sair de casa, no laboratório da faculdade, da escola técnica, da escola do ensino médio.

Arnaldo Niskier: O Rio tem 92 municípios, o que não é pouco. Você tem tido uma política de municipalização inteligente?

Luiz Gustavo Coppola: Muito forte. Já estive em várias dessas prefeituras, falando com os prefeitos, secretários de administração, já falei também com o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, com o prefeito Eduardo Paes. Estou falando também com todos os deputados federais do estado do Rio de Janeiro, 46 deputados federais e 3 senadores para que todos nos ajudem a criar uma política pública no estado do Rio de incentivo à contratação do jovem estagiário e jovem aprendiz. Muitas prefeituras das 92 do estado do Rio de Janeiro já têm um programa de estágio ou um programa de aprendizagem, mas ainda tem muito a crescer, e essa é a missão do CIEE, incentivar o poder público e a administração privada a contratarem jovens através do programa de estágio e do programa jovem aprendiz.

Arnaldo Niskier: : Você vai fazer, já está fazendo, vai fazer um sucesso maior ainda e é o que temos no coração.

Entrevista transmitida em nível nacional, no Programa Identidade Brasil, apresentado por Arnaldo Niskier no canal Futura