Novembro, 2023 - Edição 297
Krenak, primeiro representante dos povos originários na ABL
O ambientalista, líder indígena e escritor Ailton Krenak é o
primeiro representante dos povos
originários a ser eleito imortal
da Academia Brasileira de Letras
(ABL). O autor da trilogia formada por Ideias para Adiar o Fim
do Mundo, A Vida Não É Útil e
Futuro Ancestral, editada pela
Companhia das Letras, vai ocupar
a cadeira de número 5, vaga com
morte do historiador José Murilo
de Carvalho, aos 83 anos, ocorrida
em agosto.
Favorito desde o início, Krenak recebeu 23 dos 39 votos possíveis, superando a historiadora Mary Del Priore (12 votos) e outro
representante indígena, o escritor Daniel Mundukuru (4 votos). O
novo imortal passou a maior parte dos últimos tempos na Reserva
Indígena Krenak, no município de Resplendor, no estado de Minas
Gerais. Também concorreram à vaga Raquel Naveira, Antônio Hélio
da Silva, J. M. Monteirás, Chirles Oliveira Santos, Daniel Munduruku,
José Cesar Castro Alves Ferreira, Gabriel Nascentes, Ney Suassuna,
Denilson Marques da Silva, José Ricardo dos Santos Rodrigues,
Martinho Ramalho de Melo, Luiz Coronel e Maria Madalena Eleutério
de Barros Lima.
Para a ABL, a eleição de Krenak representa um avanço em termos de representatividade da rica diversidade cultural brasileira. Nos
últimos anos, a Academia vem abrindo o leque na composição de
seus imortais, com artistas de diferentes perfis e de obras heterogênicas ingressando em suas fileiras, como a atriz Fernanda Montenegro
e o compositor Gilberto Gil. Sua eleição acontece no aniversário de
35 anos da promulgação da Constituição na qual atuou para aprovação da emenda que trata dos direitos dos povos originários. Em
1987, ele comoveu o país com um discurso na Assembleia Nacional
Constituinte, em que pintou o rosto com tinta preta de jenipapo em
protesto contra o retrocesso dos direitos indígenas
Krenak é Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal
de Juiz de Fora e ocupa a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras.
Nascido em 1953, em Itabirinha, região do Vale do Rio Doce (MG),
um local afetado pela atividade de extração de minério, mudou-se
para o Paraná, aos 17 anos, onde se alfabetizou. Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, participou
da fundação da União Nacional dos Indígenas (UNI), movimento de
expressão nacional.
Comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência
da República, organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne
comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É coautor da proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco) que criou a Reserva da Biosfera da Serra do
Espinhaço, em 2005, e é membro de seu comitê gestor.
Nas décadas de 1970 e 1980, foi determinante para a conquista
do “Capítulo dos índios”, o capítulo 8º na Constituição de 1988, que
passou a garantir, no papel, os direitos indígenas à cultura e à terra.
Entre os livros mais recentes, estão Ideias para Adiar o Fim do Mundo
(2019), A Vida Não É Útil (2020), Futuro Ancestral (2022) e Lugares de
Origem (2021), escrito junto com Yussef Campos.
Em A Vida Não É Útil, ele aborda a pandemia da Covid-19
e diz: “Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que
estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa
vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar
a nossa demanda.”
A posse de Krenak, em data ainda não confirmada, será em
2024.