Novembro, 2023 - Edição 297
De sinônimos e antônimos
A sinonímia é a propriedade que têm dois ou mais termos,
expressões ou palavras reais e instrumentos gramaticais de se empregarem um pelo outro sem prejuízo do sentido, dependendo do contexto. Por essa definição entende-se que existem dois tipos de sinonímia:
a das palavras reais e a dos instrumentos gramaticais.
A sinonímia gramatical é a que se verifica com prefixos, sufixos,
raízes e conjunções, como, por exemplo, in- e des- (que significam
negação: inabitado/desabitado), -eiro e -ário (que significam estado,
profissão: costureiro/funcionário), digit(i) e datilo, que significam
dedo (digitação/datiloscopia), pois e porque que relacionam causa e
efeito (choveu, pois, a rua está molhada/porque a rua está molhada).
As gramáticas, contudo, estudam a sinonímia lexical, isto é, a
de termos ou palavras reais, como erguer/levantar, chato/enfadonho,
causa/motivo.
O problema maior da sinonímia está em acreditar que o emprego de um termo por outro se processa nos dois sentidos. Em muitos
casos, é possível substituir um termo pelo seu equivalente sinonímico
sem alteração semântica, como nos pares seguintes: notar/observar,
despido/nu, prerrogativa/privilégio. Mas a sinonímia nem sempre é
simétrica, recíproca ou bitransitiva (bitransitivo aqui entendido como
“o que transita em duas vias”). O sentido do texto é que vai permitir
a substituição de um termo por outro sem alteração semântica. A
sinonímia deve ser estudada como contextual. Assim, podemos dizer
que, na frase seguinte, “mãe” é sinônimo de “causa”: “A ociosidade é
a mãe de todos os vícios.” Mas não podemos dizer que a invasão da
Polônia foi a mãe da II Guerra Mundial. É importante que se leve em
conta a metáfora. Em “um monstro de ser humano”, monstro é sinônimo de horror; em “um monstro de inteligência”, monstro é sinônimo
de colosso! No primeiro caso, é uma ofensa (ser humano cruel); no
segundo, um elogio (pessoa inteligentíssima).
Pássaro é uma das treze ordens de aves. Podemos dizer que o
gavião e o pavão são aves, mas não podemos dizer que são pássaros,
porque o gavião é rapineiro, e o pavão é galináceo. Ave, portanto, é um
termo de significação mais abrangente que inclui desde as corredoras
(como a ema e o avestruz) aos palmípedes (como patos e gansos).
Quando uma palavra tem um sentido genérico, de menor especificidade, que abrange e inclui o significado de várias outras, dizemos que
essa palavra é um hiperônimo. Flor, por exemplo, é um hiperônimo
que inclui rosa, violeta, jasmim, margarida etc. Por sua vez, rosa é
hipônimo de flor. Veículo é um hiperônimo que inclui carro, bicicleta,
moto, ônibus etc. Por sua vez, velocípede é um hipônimo em relação a
veículo. Por causa do conceito de hiperônimo/hipônimo, fica sem sentido definir pronome como substituto de nome, já que o hiperônimo
substitui nome sem ser pronome: “O automóvel capotou na curva. A
perícia verificou que o veículo estava com os pneus carecas.” A palavra
veículo substitui automóvel e não é pronome. E há pronomes que não
substituem nome algum, como o inglês “it”, o alemão “es” e o francês
“il” na frase equivalente a “chove”: it rains, es regnet, il pleut.
O hiperônimo, grosso modo, equivale à ideia de extensão, em
lógica; e o hipônimo, à ideia de compreensão. Animal, por exemplo,
significa: “ser que vive”, “que sente” e “que se move”, ideia que se estende a todo ser que vive, que sente e que se move, desde a pulga ou a
minhoca ao elefante ou à baleia. Homem tem maior compreensão que
animal, porque inclui “racional” em seu significado, mas tem menor
extensão porque limita a ideia de animal a um único tipo de ser que
vive, que sente e que se move. Assim, homem é hipônimo em relação a
animal, porque tem uma extensão menor. O hiperônimo, assim como
a extensão, inclui um universo maior em seu significado. Assim, assento oferece uma ideia ampla (extensão) de objetos que inclui cadeira,
poltrona, banco, sofá etc. Sofá, por sua vez, oferece uma ideia restrita
(compreensão) de assento. Quanto maior a extensão, menor a compreensão, isto é, quanto mais genérico for um termo, menos preciso
ele é.
O oposto a sinônimo é antônimo, que também é normalmente
contextual. Recorde-se que nem sempre um antônimo tradicional se
pode opor ao seu par: seco se opõe a molhado, mas vinho seco não se
opõe a vinho molhado, que é expressão inexistente. Da mesma forma,
dias úteis não se opõe a dias inúteis, vinho verde não se opõe a vinho
maduro, crime organizado não se opõe a crime desorganizado, arraia-
-miúda não se opõe a arraia-graúda, que não existe, assim como
alta-roda (alta sociedade) não se opõe a baixa-roda, que também não
existe.
Curiosamente, há antônimos consagrados indevidamente,
como verdade/mentira. Verdade é um problema lógico; mentira é
um problema moral. Só pode mentir quem conhece a verdade, mas
prefere sonegá-la. Já erro (problema lógico ou paralógico) é que seria
o verdadeiro antônimo de verdade, já que a pessoa que erra desconhece a verdade. Um erro dito por alguém pode levar o ouvinte a crer
que esse alguém minta, já que o erro é a não coincidência da expressão com o objeto, exatamente como a mentira, que também é a não
coincidência da expressão com o objeto. A diferença é que, no erro, a
expressão coincide com o pensamento de quem se expressa, enquanto
que, na mentira, o pensamento contraria a expressão do falante. Como
não podemos saber o que está pensando a pessoa que fala, dizemos,
para não agredir, que ela faltou à verdade. Faltar à verdade é sinônimo
tanto de errar quanto de mentir, porque em ambos os casos a verdade
faleceu. Mas a expressão faltar à verdade não ofende e traduz adequadamente a descrença ou a ideia de quem ouve.