Outubro, 2023 - Edição 296
Fluminense e alunos do Fundão
Tomei um voo para o Rio de Janeiro para celebrar os 50 anos de formatura da primeira turma de Engenharia de Produção da UFRJ, para qual dei
aulas em 1972. Ao lado de outros dois colegas do mestrado e de Itiro Iida, um
professor trazido de São Paulo, ficamos responsáveis por 4 disciplinas, tendo
que preparar apostilas e materiais didáticos.
Uma trabalheira danada, um aprendizado forçado e gratificante, que
tenho na conta de ter sido uma das coisas mais interessantes que fiz na vida.
Celebrar junto com aqueles alunos, agora senhores de cabeça branca, era mais
do que um direito.
Antes de embarcar, tomando um café com pão de queijo, notei que
quatro homens vestindo camisa do Fluminense conversavam animadamente na mesa ao lado. Bateu uma inveja boa, de ver amigos fazendo programa
juntos, como acontecia nos tempos de pescarias. Dali, vi torcedores na fila de
embarque que ocupariam, talvez, uma metade das poltronas do avião.
Já embarcados, tricolor que sou, puxei assunto com o que estava ao
meu lado e fiquei sabendo que haveria jogo importante no Maracanã. Mais:
que existe uma loja do nosso time, num shopping, que vendeu mais de 740
ingressos e reservou hotéis. Tudo com desconto para associados.
A conversa seguiu animada a viagem inteira. Contei que, nos idos dos
anos 1960/1970, existia em Vitória uma movimentação similar de torcedores,
conhecidos por “Malandros de Decisão”, que tomavam seus assentos num
ônibus da Itapemirim por volta das 23h, com destino à Rodoviária Novo Rio.
Com cara de passageiros mal dormidos, pegavam um táxi até a Avenida
Copacabana, onde compravam as entradas para o jogo numa lojinha no
Mercadinho Azul, perto da Rua Santa Clara.
De lá, saíam caminhando até algum bar nas calçadas de Ipanema, para
ver os brotos passando a caminho das areias da praia. Tendo tomado umas
tantas cervejas, almoçavam por ali e iam para o estádio com antecedência,
para garantir bons lugares na torcida.
Terminado o jogo, voltavam de táxi para Zona Sul, agora para as rodadas de cerveja de comemoração ou de desgosto. Comiam alguma coisa consistente e tomavam mais um táxi, agora para a Rodoviária, pra começar a viagem
de umas 9 horas de volta pra Vitória. Isso se o trecho de Morro do Coco, perto
da divisa, o único ainda sem asfalto, estivesse dando passagem. Dizia-se que o
atoleiro que existia ali era argumento estratégico para a empresa de Cachoeiro
manter a exclusividade na exploração do trecho Rio-Vitória.
Como o mundo é mesmo pequeno, conversa vai, conversa vem, fiquei
sabendo que o companheiro de viagem era sobrinho do meu querido professor
Ferrari, na Escola Politécnica, um dos que me estimularam a fazer o mestrado
na COPPE/UFRJ, exatamente o meu destino naquela manhã.
Em terra, entusiasmado, tirou uma foto nossa e despachou para o tio,
acompanhada de um áudio vibrante ao celular. Na volta, vim trazendo emoções do reencontro com meus ex-alunos sorridentes e satisfação de saber da
vitória do meu time.