Outubro, 2023 - Edição 296

Angelo Venosa na Casa Roberto Marinho

A obra de um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira pode ser apreciada até o dia 12 de novembro, na Casa Roberto Marinho. A mostra panorâmica Angelo Venosa, escultor, sob a curadoria de Paulo Venancio Filho, ocupa os 1.200m² de área expositiva do instituto cultural no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, reunindo 85 trabalhos de um arco temporal que vai do início da década de 1970 às últimas obras realizadas em 2021.

De acordo com o curador, que acompanhou a trajetória artística de Angelo Venosa (São Paulo, 1954 – Rio de Janeiro, 2022) desde os primórdios, a exposição apresenta um amplo panorama de sua produção absolutamente singular. E revela a complexidade de seu pensamento escultórico expresso em obras de grandes dimensões ou de pequeno formato, construídas a partir de materiais diversificados, que caracterizam seu processo criativo.

Sem obedecer a uma cronologia linear, o curador selecionou esculturas suspensas, de parede ou de chão. Provenientes de acervos institucionais e de coleções particulares, as peças se espalham pelo espaço, emergem horizontalmente ou exploram a verticalidade, incorporando luz e sombra como parte do projeto, e revelando uma inusitada investigação da estrutura e da forma.



“Fiz questão de colocar, lado a lado, trabalhos de diferentes períodos, tamanhos e volumes. Cada sala tem uma unidade que se comunica com o todo. A proposta é apresentar o conjunto com certa liberdade, sem pautá-lo por eixos temáticos, deixando que o espectador encontre suas próprias referências a partir da multiplicidade de significados e inquietações que as obras evocam”, informa Venancio Filho. A radicalidade experimental que marca a produção de Venosa manifesta-se em cada trabalho. Em sua poética, materiais recorrentes à prática da escultura tradicional, como o bronze, o mármore, o aço e a madeira, se fundem a ossos, dentes de boi, piche, areia, cera de abelha, bandagem, filamentos de café, galho de árvore, breu, fibra de vidro, gesso, tecido e arame.

Apesar do aspecto eminentemente artesanal de sua obra, o escultor sempre esteve atento às tecnologias digitais e, a partir de um determinado período, incorporou a impressora 3D à sua prática, sem deixar de lado os meios tradicionais.

A panorâmica apresenta os trabalhos negros do início da carreira – estruturados a partir de madeira, tecido e tinta – em diálogo com a produção recente, estabelecendo relações plásticas entre as peças. Um autorretrato em xilogravura, de 1972, é a obra mais antiga em exibição. No térreo, há um espaço dedicado aos desenhos, anotações e esboços do artista, que tinha grande fluência no traço. Completa a seleção uma série de retratos em acrílica sobre papel produzida por Luiz Zerbini, grande amigo de Venosa. A mostra contempla, ainda, uma cronologia ampliada organizada por Ileana Pradilla Ceron.

Sobre o artista
Angelo Augusto Venosa nasceu em São Paulo, em 1954. Em 1973, frequentou a Escola Brasil, espaço experimental de ensino de arte. No ano seguinte, transferiu- -se para o Rio de Janeiro, cidade que elegeu para morar até o fim da vida, para estudar na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI-UERJ).

Graduou-se bacharel em desenho industrial em 1977, ano em que se casou com Sara Grosseman, sua colega de faculdade, com quem teve dois filhos.

Na década de 1980, assistiu a cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, epicentro da cultuada “Geração 80”, marcada pela retomada da pintura. Venosa se distinguiu de seus contemporâneos por ter se dedicado à̀ escultura. Em 2007, defendeu a dissertação de mestrado “Da Opacidade”, na Pós-graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Sua trajetória inclui passagens pela Bienal de São Paulo (1987), Arte Brasileira do Século XX (1987, Musée d’Art Moderne de La Ville de Paris), Bienal de Veneza (1993) e Bienal do Mercosul (2005).

Em 2012, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro consagrou-lhe uma exposição individual em comemoração aos 30 anos de carreira, que seguiu em itinerância para a Pinacoteca de São Paulo, o Palácio das Artes em Belo Horizonte e Mamam, em Recife.

Algumas de suas esculturas em escala monumental estão instaladas em espaços públicos como os jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e do Museu de Arte Moderna de São Paulo. A Pinacoteca do Estado de São Paulo (Jardim da Luz), a Praia do Leme e o Museu do Açude, ambos no Rio de Janeiro, também exibem obras permanentes. Bem como a cidade de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e o Parque José Ermírio de Moraes, em Curitiba.

SERVIÇO: Instituto Casa Roberto Marinho
Rua Cosme Velho, nº 1105 – Rio de Janeiro | RJ
Tel: (21) 3298-9449
Visitação: terça a domingo, das 12h às 18h
(Aos sábados, domingos e feriados, a Casa Roberto Marinho abre a área verde e a cafeteria a partir das 9h.)

Por Manoela Ferrari