Agosto, 2023 - Edição 294
Educação: empreendedorismo, sustentabilidade e inovação para a sociedade inclusiva
O importante economista do início do século passado,
Joseph Alois Schumpeter, em seu livro Teoria do Desenvolvimento
Econômico, expõe com clareza um pensamento que denominou
de “fenômeno fundamental” do desenvolvimento. Tentar exemplificá-lo busca associar o processo de desenvolvimento econômico a
mudanças endógenas e descontínuas na produção de bens e serviços. Em sua análise, destaca a figura do empreendedor (ou empresário schumpeteriano) como agente fundamental do processo de
desenvolvimento econômico.
A economia de um Estado é um exemplo de aplicação prática da teoria econômica de Schumpeter, devido às influências
notáveis de lideranças empresariais que ao longo de sua história,
em momentos os mais distintos, contribuíram com a sua visão
empreendedora para o progresso industrial do Estado e, que
mesmo nos períodos de intensas dificuldades, superaram crises
abrindo novos caminhos e perspectivas de recuperação.
Segundo Schumpeter, o desenvolvimento, no sentido em
que o consideramos, é um fenômeno inteiramente estranho ao
que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o
equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais
do fluxo, na perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para
sempre o estado de equilíbrio previamente existente.
O autor define um tipo de mudança que se expressa como
“emerge de dentro do sistema e que desloca de tal modo o seu
ponto de equilíbrio que o novo não pode ser alcançado a partir do
antigo mediante passos infinitesimais”.
E exemplifica: “Adicione sucessivamente quantas diligências
quiser, com isso nunca terá uma estrada de ferro.”
Para Schumpeter, o produtor empresário é o autor da
mudança econômica e os consumidores são de um certo modo
conduzidos por alguma referência a querer coisas novas, ou coisas
que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar, consumir ou adotar.
No processo de desenvolvimento, por outro lado, também
ocorrem mudanças descontínuas, espontâneas e que alteram e
deslocam o estado de equilíbrio da economia e, em geral, ocorrem
por motivações conjunturais, ambientais, de clima e de mercado.
Os últimos dez anos apresentaram mudanças profundas
que incluem transformações na vida social e no trabalho enquanto
muito pouco ou quase nada mudou na educação.
O Ensino Médio brasileiro, sem nenhuma identificação com
o seu entorno social, não corresponde em qualidade e quantidade
às expectativas dos alunos e do mercado de trabalho.
Trata-se de uma proposta educacional sem atrativos e sem
qualquer terminalidade, até mesmo aquela que por algum tempo
a conduziu como processo de preparação para os vestibulares, hoje
completamente defasados da realidade do acesso às instituições
privadas de ensino superior.
Que medidas precisam ser adotadas para adequar os programas de formação de competências no Ensino Médio com as
necessidades de preparação para o trabalho? Que etapas devem ser
vencidas na construção da passarela que unirá a Educação Básica e
Profissional ao mundo competitivo do trabalho?
Os recursos humanos se deparam, por seu turno, com exgências mais rigorosas de desempenho, tanto quanto à sua produtividade como quanto à qualidade decorrente dos parâmetros de
competitividade.
Na medida em que as profissões técnicas conquistem o
seu espaço e o número expressivo de matrículas e conclusões
aponta para uma perspectiva de crescimento favorável, o Ensino
Médio encontrará uma razão melhor do que a atual quando exerce uma função intermediária sem objetividade entre o Ensino
Fundamental e o desgastado Ensino Superior.
Algumas considerações podem ser introduzidas como contribuição isolada ao tema da educação profissional embora longe
de se constituírem em indicações mais profundas.
Os custos da educação técnica são elevados em algumas
áreas, tais como a saúde, a automação, a ambiental, as telecomunicações, por demandarem investimentos elevados em instalações
e laboratórios, na sua manutenção e atualização, na contratação
de um corpo docente especializado e que encontra remuneração
atraente em outras áreas do mercado de trabalho, enfim cursos que
devem ser da alçada de instituições públicas e sérias.
Outras áreas tornam-se muito pouco atraentes, para as instituições de ensino técnico, pelo elevado investimento que demandam, como foi dito, e por ser um mercado relativamente restrito,
porém importante, como os técnicos em manutenção de aeronaves, os técnicos em atividades das usinas nucleares, na geração de
energia elétrica, na bioquímica, nos fármacos, etc.
Nos casos citados, as associações de instituições de educação técnica e empresas surgem aparentemente como possibilidades viabilizadoras da oferta destes cursos.
Da mesma forma que vem sendo tratada no ensino superior,
o exame da concessão de bolsas de estudo, para alguns cursos técnicos estratégicos, poderia ser cogitado pelo Estado.
Uma carência identificada reside na formação de professores para a educação técnica uma vez que a legislação ainda não
esclareceu em nível nacional o aproveitamento de profissionais
não licenciados das áreas da saúde, tecnológica e outras como
docentes. Será necessário rever as normas e ampliar a oferta de
programas de aperfeiçoamento e especialização de tais profissionais. Também não ficou clara a norma federal que conduz ao
treinamento em serviço para a formação de docentes das áreas
citadas.
Há necessidade de que se promovam estudos e pesquisas que conduzam a Matrizes de Necessidades de Formação de
Técnicos no Estado, principalmente nas áreas altamente especializadas da Petroquímica, da Siderurgia, da Construção Naval,
das Montadoras de Veículos Automotivos, nas Usinas de Geração
Elétrica etc.
Finalmente, a Lei de Diretrizes e Bases, nº 9.394/1996 foi
extraordinariamente estimuladora para a educação profissional;
seus primeiros dez anos de existência apontam para muitos acertos em termos quantitativos, porém há muito por ser feito pelo
Estado, pelas empresas e pelas instituições de ensino, na busca de
uma qualidade desejável e alcançável.
A educação pública, em particular o Ensino Médio, merece
uma reflexão mais aplicada e uma reformulação de métodos e
processos que garantam uma gestão adequada às imposições da
modernidade, rasgando os manuais de uma burocracia esgotada
e inadequada diante das realidades desafiadoras dos dias atuais, e
corrijam o quadro negro de um desempenho incompatível com os
mais modestos parâmetros de qualidade e de eficiência.
A odisseia educacional exige medidas que acompanhem o
progresso das telecomunicações e da informática, que favoreçam
a inserção no mercado de trabalho, que reduzam as desigualdades
sociais, que respeitem o conceito de cidadania, que façam do trabalho um direito festivo e, não, um castigo.
Uma das grandes questões da atualidade reside na construção de um mercado de trabalho capaz de absorver os numerosos
contingentes populacionais por níveis de qualificação em busca
de emprego.