Julho, 2023 - Edição 293
Tá tenso. Tá, sim, senhoras e senhores
Tá tenso aí? Tem até rolado uns medos mais esquisitos? Anda
olhando para os lados, já não atende celular na rua nem por decreto? Anda
de carro com os vidros fechados ou, se tem recursos, mandou fazer blindagem dupla? Se arrepia só pela aproximação de uma moto ou uma bicicleta?
Está tenso. A impressão não é só minha ou sua, parece ter mesmo
a ver com o clima geral. Pior, clima local, nacional, mundial. Parece que
estamos todos dentro de um barril de pólvora e que, se alguém riscar um
fósforo, pode explodir, e ainda bem que não estamos perto de rebanhos
bovinos e seus puns inflamáveis que mandam tudo aos ares.
Mas vamos falar de Brasil. E, ainda, mais perto, também de São
Paulo, que acaba representando o que deve estar ocorrendo em outras
centros urbanos, embora em outra escala. Parece que alguma coisa está
sempre sendo urdida em algum lugar – isso aqui me referindo à política,
a aquele pessoal horroroso que nos infernizou durante quatro anos e que
não queria largar o osso e agora pretendem não nos deixar esquecê-los
de vez. A gente respira um incrível e silencioso ar de conspiração, que nos
impede até de curtir um pouco mais o ar pacífico, alegre e leve que sentimos quando os tiramos do poder. Eles insistem em infernizar e o ar chega
a ficar fétido quando o atual governo federal não faz ou faz/fala/inventa
sandices, infelizmente ocasiões que ainda são numerosas. Imediatamente
qualquer assunto, por mais bobo que seja, é ampliado pelos agentes do
mal nas redes, fermentado, acrescido ainda de fake news e outras provocações.
Eles estão aí, vivos, que não nos distraiamos.
A economia não vai bem no mundo inteiro, mas claro que o que a
gente sente mesmo de verdade na pele é a nossa, a que está perto, a que
nos impede de comprar, planejar. E não tem nada bom, os índices mostram que um rolo compressor aparenta estar aquecendo motores atrás de
algum poste, empresários mal-humorados, demissões assustadoras, previsões de tempo ruim. Tudo isso também dimensionado e alimentado pela
ideia do quanto pior melhor, da direita, da esquerda, do centro – assim se
fatura em cima, vocês sabem que essa é a comida da política ruim.
Vou fechar o foco mais aqui em São Paulo e aí vamos falar de
Segurança Pública, do Centro da cidade, dos moradores de rua, dos viciados da Cracolândia, das ondas altas de volta, com sequestros, roubos,
assaltos, golpes de tudo quanto é tipo, gangues, da pedrada, da cotovelada.
Tudo coisa pra a gente até ter saudade dos tempos que falávamos apenas
de trombadinhas. Agora são trombadões sem qualquer poesia que nos
lembre os meninos do trapiche de Jorge Amado em Capitães da Areia.
É preciso também, no entanto, que se ressalte: o número de ideias
de jerico que está saindo da cabeça das autoridades responsáveis parece
que vem de contusões de tanto eles próximos baterem cabeça entre si.
Essa semana foi pródiga. A começar pelo projeto de levar moradores de
rua para trabalhar em propriedades rurais de pequenos agricultores, com
o governo se comprometendo a comprar deles parte da produção. Não
parece uma ideia linda, fofa?
Pois, pelo menos a mim, parece a implantação de um projeto de
nova forma de escravidão, porque obviamente a fiscalização do funcionamento é praticamente impossível.
Todo dia uma coletiva anuncia algo: então, já cercaram de grades
a icônica Praça da Sé; a bela Catedral está com a sua frente adornada por
viaturas. Como espalharam a Cracolândia, boa parte dos efetivos se ocupa
em passar o dia correndo atrás dos montinhos de viciados e traficantes
que se agrupam, correndo e voltando sempre ao mesmo local quando
eles viram as costas. Sobre os moradores de rua, enquanto um secretário
dá entrevista falando em tratamento humanizado, poucos quilômetros
adiante as câmeras das tevês mostram barracas e itens do povo da rua
sendo jogados violentamente em caminhões. Têm sido frequentes os relatos de truculência policial.
Tá tenso, bem tenso, porque tudo isso junto está piorando nos últimos dias quanto até o comércio já bem prejudicado tem baixado portas
para evitar arrastões que já ocorreram na região central. O medo, o temor
e o terror se espalham. Mas fiquem espertos. A diferença é que agora tudo
parece muito organizado, comandado de cima por poderosas forças e
organizações criminosas que se fortaleceram cada vez mais justamente
nos últimos anos enquanto quem devia agir continua pensando em soluções que nunca chegam. Ou quando são tentadas são só mais ideias de
jerico.