Adeus ao gênio Jô
Jô queria ser diplomata quando criança. Com esse objetivo, foi estudar na
Suíça. Durante a estadia no Lycée Jaccard, ganhou o apelido de “Joe”, redutivo
da versão inglesa de seu nome, Joseph, bem como referência à popular canção
“Hey Joe!”, de Frankie Laine. Mais tarde, reduziria a Jô. Porém, percebeu que
o senso de humor apurado e a criatividade inata apontava para outra direção.
Com múltiplas habilidades, além de atuar, dirigir, escrever roteiros, livros
e peças de teatro, Jô Soares também foi um apreciador de jazz e chegou a apresentar um programa de rádio na extinta Jornal do Brasil AM, no Rio de Janeiro,
além de uma experiência na também extinta Antena 1.
Na TV brasileira, não existe história sem Jô, que esteve desde os primórdios. Estreou no elenco da Praça da Alegria, em 1956, na TV Record, onde ficou
por 10 anos. Lá também protagonizou, em 1965, a única novela de sua carreira, a
comédia “Ceará contra 007”, a trama de maior audiência naquele ano no Brasil.
Também na Record, participou da “Família Trapo”, onde roteirizava, ao lado de
Carlos Alberto de Nóbrega, e atuava como “Gordon”, o mordomo atrapalhado e
descompensado. Último trabalho na Record.
Em 1971, se transferiu para a TV Globo. Faça Humor, Não Faça Guerra foi
primeiro humorístico na emissora, onde lançou uma galeria de personagens
e bordões que, até hoje, estão na boca do povo. Em 1981, Viva o Gordo, com
direção de Walter Lacet e Francisco Milani, foi o primeiro programa solo. Deu
origem ao espetáculo Viva o Gordo, Abaixo o Regime (sátira explícita ao Golpe
Militar de 1964 ainda vigente àquela época).
Depois de conquistar
todos os territórios no humor,
em vez de se acomodar no
sucesso, Jô se transferiu para
o SBT a fim de apresentar
um programa de entrevistas.
Carregou um público numeroso para o seu “Jô Soares onze
e meia”. Qualificou a faixa da
madrugada, recebeu o Brasil
todo – famosos e anônimos
com algo a contar – em seu
sofá. Quando a entrevista não
rendia pelo convidado, compensava tudo improvisando
um show próprio. Em 2000,
voltou para a Globo, onde fez o
Programa do Jô, até 2016.
O apresentador falava,
com diferentes níveis de fluência, cinco idiomas: português,
inglês, francês, italiano e espanhol, além de ter bons conhecimentos de alemão.
Traduziu um álbum de histórias em quadrinhos de Barbarella, criação do francês Jean-Claude Forest.
Com grande talento literário, Jô estreou na literatura aos 57 anos, com
o romance O Xangô de Baker Street (1995). Em seguida, publicou O homem
que matou Getúlio Vargas (1998), Assassinatos na Academia Brasileira de Letras
(2005) e As esganadas(2011), sempre esbanjando sua verve humorística, o amor
pelas histórias policiais e o gosto pela pesquisa histórica. Vendeu mais de 1
milhão de livros em duas décadas, afirmando sua popularidade também como
escritor.
Em 31 de outubro de 2014, morreu seu único filho, Rafael Soares (1964–
2014), que tinha transtornos do espectro autista, no Hospital Samaritano, na Zona
Sul do Rio de Janeiro. Em 4 de agosto de 2016, foi eleito para a Academia Paulista
de Letras, assumindo a cadeira 33, que pertenceu ao escritor Francisco Marins.
Jô Soares vivia em seu apartamento, em Higienópolis, São Paulo. A
última aparição pública do humorista e apresentador aconteceu em fevereiro
de 2021, quando ele esteve no Estádio do Pacaembu para se vacinar contra a
Covid-19, em 2021.