Posse do imortal Paulo Niemeyer Filho

A presença e a importância da ciência foram reforçadas na Academia Brasileira de Letras, com a posse do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, em concorrida cerimônia, prestigiada por profissionais de várias áreas.

O novo acadêmico, autor de livros como O que é Ser Médico e No Labirinto do Cérebro (finalista do Prêmio Jabuti), passa a ocupar a cadeira de número 12, deixada pelo escritor e crítico literário Alfredo Bosi, que morreu de Covid, no dia 7 de abril de 2021. Participaram da eleição 34 acadêmicos de forma presencial ou virtual (um não votou por motivo de saúde). Os ocupantes anteriores da cadeira 12 foram: Urbano Duarte (fundador) – que escolheu como patrono França Júnior –, Augusto de Lima, Vítor Viana, José Carlos de Macedo Soares, Abgar Renault e Dom Lucas Moreira Neves. “Nesse momento em que a ciência foi fundamental durante a pandemia e que a ciência está sendo menosprezada pelas políticas governamentais, a chegada do Paulo Niemeyer na Academia Brasileira de Letras é uma mostra de que nós não concordamos com o que está acontecendo e queremos enfatizar a importância da ciência no país”, afirmou o presidente da Casa de Machado, Merval Pereira.

No discurso de recepção, o acadêmico Joaquim Falcão deu as boas-vindas: “Paulo, obrigado pelo seu exemplo. Sólida formação, a serenidade, as mãos dadas com o paciente, o bom exemplo profissional e o humanismo a favor do Brasil.”

24° médico a participar da história da ABL, o novo imortal, que completou 70 anos em abril, falou sobre a vida dedicada à medicina e relembrou os desafios da ciência: “Coube a mim prorrogar a presença da ciência nesta casa, justamente no momento em que o mundo científico sai vitorioso no combate ao coronavírus. A Academia abre hoje as suas portas para um médico que trabalha pela vida, e que é fervorosamente a favor das pesquisas científicas, das vacinas e das artes. É a vitória da ciência, é a importância da ciência. Isso já aconteceu no passado, quando houve a revolta da vacina, que foi um momento muito grave, e Oswaldo Cruz foi consagrado e eleito para a Academia. A academia sempre esteve presente nesses momentos de defender os valores civilizatórios.”

Em seu discurso de posse, Niemeyer Filho disse ainda que coube a ele prorrogar a presença da ciência na ABL, justamente no momento em que o mundo científico sai vitorioso no combate ao coronavírus: “A covid-19 levou amigos e parentes e a Academia Brasileira de Letras não ficou imune, com a perda de um dos seus membros mais ilustres, Alfredo Bosi, professor e acadêmico que não resistiu à doença. Sinto-me muito orgulhoso em ingressar nesta casa. É uma grande honra, um privilégio que distinguiu apenas 261 brasileiros, em seus 124 anos de existência. Serei o primeiro médico a assumir a cadeira de número 12, que foi ocupada por intelectuais de diversas áreas: escritores, jornalistas, poetas, homens públicos, representante do clero e da vida acadêmica. Todos a abrilhantaram. Os médicos sempre estiveram presentes na ABL, desde a sua fundação.”

Paulo Niemeyer Filho representa o grupo médico ao lado de outros confrades da Academia Nacional de Medicina que ocuparam cadeiras na ABL, como Francisco de Castro, Afrânio Peixoto, Oswaldo Cruz, Antonio Austregésilo, Miguel Couto, Aloysio de Castro, Fernando Magalhães, Miguel Osorio de Almeida, Deolindo Couto, Carlos Chagas Filho e Ivo Pitanguy. A Academia Nacional de Medicina, sua Casa desde 2002, esteve representada pelo Presidente Francisco Sampaio, que teve assento à mesa ao lado do Presidente da ABL Merval Pereira, do Acadêmico Joaquim Falcão que o recebeu, e dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux e Luís Roberto Barroso.

Entre as prioridades que pretende desenvolver na ABL, Paulo Niemeyer Filho afirmou que quer ter o prazer da convivência com os demais acadêmicos “e poder levar um pouco da minha vivência nas neurociências para que eles fiquem mais curiosos para saber de onde vem tanto talento literário. Isso deve ter alguma explicação cerebral”, brincou.

Após a solenidade, o ministro Luís Roberto Barroso falou sobre o simbolismo do momento: “Acho que tem um papel simbólico muito importante. É a valorização da ciência e da medicina nesses tempos muitas vezes de obscurantismo e de negacionismo. Portanto, eu acho que é uma homenagem à ciência, mas sobretudo uma homenagem a um grande profissional”, afirmou Barroso.


Trajetória



Sobrinho do arquiteto Oscar Niemeyer e filho do também neurocirurgião Paulo Niemeyer, Paulo Niemeyer Filho, atualmente, é diretor médico do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e Membro do Conselho da Fundação do Câncer. Nascido no dia 9 de abril de 1952, no Rio de Janeiro, graduou-se médico pela UFRJ, em 1975, e iniciou a residência em Neurocirurgia na Clínica Neurocirúrgica Dr. Paulo Niemeyer, na Casa de Saúde Dr. Eiras e dedicou seu primeiro ano de residência ao estudo da Neurologia e Neurorradiologia, no The National Hospital for Nervous Diseases, Institute of Neurology, University of London, Queen Square, onde estagiou como PostGraduate Fellow. Em 1977, foi nomeado chefe do Serviço de Neuro-Tomografia Computadorizada da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Em 1979, introduziu, no Brasil, nova técnica microcirúrgica para tratamento de nevralgia do trigêmeo. Ao final de 1979, foi nomeado diretor do Instituto de Neurocirurgia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Em 1984, como Membro Fundador, foi eleito Presidente da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro e membro do Conselho Superior da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Em 1987, foi aprovado como membro internacional da Sociedade Norte-Americana Congress of Neurological Surgeon. Em 1989, foi eleito membro do Neurotraumatology Committee do Word Federation of Neurological Societies.

Por Maria Cabral