Com o passaporte da literatura, José Paulo Cavalcanti Filho toma posse na ABL
Advogado, romancista e pesquisador, com mais de 18 títulos publicados, o jurista e escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, de 74 anos,
tomou posse na Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, no dia 10 de junho,
em concorrida cerimônia no Petit Trianon, na Casa de Machado. Até o ano passado, a Cadeira 39 também pertencia a um advogado pernambucano: o ex-vice-presidente da República Marco Maciel, falecido em 2021. Os ocupantes anteriores foram: Oliveira Lima (fundador) – que escolheu como patrono Francisco
Adolfo de Varnhagen –, Alberto de Faria, Rocha Pombo, Rodolfo Garcia, Elmano
Cardim, Otto Lara Resende e Roberto Marinho.
Por problemas de saúde, o também pernambucano e imortal Marcos
Vinicios Vilaça não compareceu ao evento. No ritual de posse, conduzida pelo
presidente da instituição Merval Pereira, José Paulo agradeceu a presença
da viúva de Marco Maciel, Ana Maria Maciel, e homenageou a esposa Maria
Lecticia Monteiro Cavalcanti: “O segredo de uma relação longeva – são 50 anos
de casado – é obedecer.”
Considerado um conhecedor profundo da obra do escritor português
Fernando Pessoa, o refinado ensaísta conquistou, em 2012, o prêmio José
Ermírio de Moraes, pelo livro Fernando Pessoa – Uma quase autobiografia,
que também ganhou o primeiro lugar na Bienal do Livro e no Prêmio Jabuti.
Vencedor do Prêmio II Molinello, na Itália, recebeu, ainda, premiações em
países como Romênia, Israel, Espanha, França, Holanda, Alemanha, Rússia,
Inglaterra e Estados Unidos.
Em seu discurso de posse, Cavalcanti Filho afirmou que os objetivos da
Academia Brasileira de Letras foram traçados por Machado de Assis, há 125
anos: “Está nos artigos primeiros do estatuto, que é a defesa da língua e da
cultura. Eu penso que a gente tem que retraduzir esses conceitos para dar-lhes
maior atualidade. A defesa da língua é mais que a defesa de alguns símbolos.
Eu penso que não há nada mais urgente e revolucionário do que a educação
popular. Criar cidadãos. E cultura significa reconhecer a identidade nacional
que está faltando.”
O escritor afirmou, ainda, que é preciso retraduzir esses conceitos para
que eles ganhem maior atualidade. A defesa da língua, para ele, significa ir
adiante e aprender que há “dois Brasis afastados”, sendo “um que fala a língua
oficial e outro de determinados cidadãos comuns que, usando versos do (poeta)
pernambucano Manuel Bandeira, na ‘Evocação de Recife’, falam a língua errada
do povo, língua certa do povo”.
O novo imortal destacou que é preciso compreender que “não há nada
mais moderno, urgente, transformador, revolucionário e democrático do que
educação popular. É preciso permitir que os brasileiros sejam cidadãos e possam, informados, decidir os seus destinos”.
A cultura, de acordo com as palavras do acadêmico, deve ser compreendida com uma visão mais ampla: “Compreender que nós somos diferentes e ir
além, compreender que essas diferenças nos inquietam e que seremos ainda
mais ricos se formos capazes de prestigiar essas diferenças. É compreender um
povo, quem somos como brasileiros, e valorizar a nacionalidade.”
Por fim, Cavalcanti afirmou que é preciso lutar contra a desigualdade
social: “Há um rio que separa os brasileiros, e é preciso remar ao contrário desse
rio. Que a confiança vença o medo, a razão vença o preconceito, a luz do sol
vença o desalento das sombras”, finalizou o novo imortal.
O presidente da ABL, Merval Pereira, destacou as qualidades do novo
colega de fardão: “Um grande jurista, um grande escritor. A intenção da
Academia é sempre ampliar a representatividade da sua composição. E o fator
regional é muito importante.
Em entrevista à Agência Brasil, a primeira observação feita por José Paulo
foi que, em 125 anos da Academia, só um pernambucano morava em Recife
e continuou morando na capital pernambucana depois da eleição (Mauro
Mota, eleito em 1970): “Eu sou o segundo que continua morando no Recife.”
Ele disse que sua eleição significava “uma homenagem que a Academia presta
a Pernambuco”.
A secretária-geral da ABL, acadêmica Nélida Piñon, também destacou a
representatividade: “O Brasil é um país que nos deixa impressionados com sua
extensão, com sua grandeza. E é um país que não se esfacelou. Portanto, receber
mais um grande pernambucano é uma alegria para a Casa.”
Depois do discurso, em que citou escritores como Joaquim Nabuco, José
Saramago, Eduardo Lourenço, e claro, Fernando Pessoa, o novo acadêmico
recebeu o colar do imortal Carlos Nejar. A espada foi entregue por Arnaldo
Niskier e o diploma por Alberto Venancio Filho.
O acadêmico Domício Proença Filho fez o discurso de boas-vindas no
lugar de Marcos Vilaça. O jurista reforça a bancada de pernambucanos na ABL,
hoje formada também por Geraldo Holanda Cavalcanti, Evanildo Bechara e
Evaldo Cabral de Mello.
O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Marcelo Navarro compôs
a mesa ao lado de alguns acadêmicos. Entre os que prestigiaram a cerimônia,
o ex-presidente do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro, o ex-governador de Pernambuco João Lyra Neto, a presidente do Instituto Histórico e
Geográfico de Pernambuco Margarida Cantarelli, a conselheira do Tribunal de
Contas do Estado Teresa Duere, o presidente da OAB-PE Fernando Ribeiro Lins
e o presidente da Academia Pernambucana de Letras, Lourival Holanda.
Biografia
Membro da Ordem dos Advogados do Brasil, diretor do Escritório de Advocacia José Paulo Cavalcanti, do Instituto dos Advogados de Pernambuco e do Instituto dos Advogados Brasileiros, José Paulo Cavalcanti Filho nasceu no Recife, no dia 21 de maio de 1948.
Formado pela Faculdade de Direito do Recife (1971), foi secretário-geral do Ministério da Justiça e ministro interino da Justiça no governo do ex-presidente José Sarney e também presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), da EBN (depois Empresa Brasil de Comunicação – EBC), e do Conselho de Comunicação Social (órgão do Congresso Nacional). Consultor da Unesco e do Banco Mundial, ocupa atualmente a cadeira 27 da Academia Pernambucana de Letras.