Junho, 2022 - Edição 280

Entrevista com José Augusto Minarelli - Nova gestão do CIEE

Entrevista transmitida em nível nacional, no Programa Identidade Brasil, apresentado por Arnaldo Niskier no canal Futura



Arnaldo Niskier: Hoje, com muito prazer, recebemos a visita do presidente do CIEE nacional, professor, escritor, autor, Dr. José Augusto Minarelli. Ele é também presidente do Conselho de Administração do CIEE de São Paulo. Qual é a importância do CIEE para a juventude brasileira?

José Augusto Minarelli: O CIEE é uma organização de assistência social e de cunho educacional que prepara os jovens menos favorecidos para a transição do mundo do ensino, da educação para o mundo do trabalho. A importância do CIEE é que abre oportunidade para os jovens que, de outra forma, não teriam tanto sucesso no início da sua carreira, na sua formação profissional e no início da carreira de trabalho. Então, o CIEE cumpre uma função social importante, que é de abrir oportunidade para quem não tem oportunidades.

Arnaldo Niskier: O CIEE sofreu a influên- -cia da pandemia? Foi um tempo difícil para o CIEE?

José Augusto Minarelli: Sem dúvida. O CIEE sofreu como todas as organizações sofreram nesses dois anos. Tivemos que emagrecer, reduzir, fazer ajustes e procurar novas formas de atender os jovens, principalmente utilizando tecnologia, porque de outra forma não conseguiríamos. Realmente tivemos uma queda de oportunidade de estágio e de vagas para aprendizagem. Mas, felizmente, resistimos, persistimos e hoje já estamos colhendo os resultados, a melhoria dos números. Então, acreditamos que conseguiremos, até o final de 2022, voltar ao patamar de 2019.

Arnaldo Niskier: Você, que preside São Paulo, tem uma influência muito grande no Brasil todo. Quais são as tecnologias mais usuais na vida do CIEE?

José Augusto Minarelli: O CIEE está presente no Brasil todo e para atingir todos os estados juntamente com seus coirmãos, os CIEEs autônomos, foi preciso investir em tecnologia, a começar por um novo sistema operacional para dar sustentação ao CRM. O coração da atividade é o CRM, ou seja, o Banco de Dados de escolas e de estudantes que permite registrar os contratos, as oportunidades e permite também a disseminação de conhecimento, como a UniCIEE. O CIEE tem uma universidade corporativa para os estudantes que estão em estágio e é também aberto à comunidade. Foi graças aos investimentos em tecnologia que pudemos atender muito mais pessoas com os recursos que compramos, desenvolvemos justamente para atender à missão de disseminar mais conhecimento para os jovens.

Arnaldo Niskier: O CIEE oferece bolsas?

José Augusto Minarelli: Sim, o CIEE tem uma organização interna de alunado, dos ex-estagiários, chamada “Somos CIEE”. Por intermédio da associação, de quem passou pelo CIEE alguma vez, em programas de aprendizagem ou de estágio, estamos juntando toda essa força de conhecimento, de possibilidades e de recursos financeiros para financiar bolsas. Hoje temos convênio, acordos com escolas particulares a quem pagamos anuidade. Além disso, damos uma bolsa de manutenção para o jovem, porque não basta dar o curso, ele precisa do material escolar, do ônibus e do lanche. Geralmente o bolsista acaba tendo um outro trabalho e precisa se deslocar em direção à escola ou em direção ao trabalho, precisa tomar um lanche e é fundamental que, além da bolsa de estudo, se dê uma bolsa de manutenção.

Arnaldo Niskier: Você é presidente do CIEE nacional. Vivemos uma crise econômica indiscutível. Como o CIEE supera essa crise econômica?

José Augusto Minarelli: A crise econômica nos pegou em cheio. A redução de atividade ficou em torno de 30%, atividade e receita. Todos os CIEEs, a começar por São Paulo, fizeram ajustes na sua estrutura: ajuste no quadro de pessoal, nos investimentos de imóveis, substituição de atividade presencial por atividade on-line, readequação de espaços. Em São Paulo, por exemplo, colocamos à venda espaços que compramos na época de vacas gordas, espaços enormes que já não são mais necessários. Então, hoje, alugamos algumas salas por um valor muito menor do que a manutenção de um espaço imenso nosso. Mudamos um pouco de pensamento em relação ao patrimônio imobiliário. Houve uma época de consolidação e fortalecimento que se baseou em investimento imobiliário. Mas, hoje, com os recursos da tecnologia, podemos, em um espaço menor, ter um centro administrativo, ter espaço para atividade presencial em locais alugados e, com isso, conseguimos superar esse período. Os demais CIEEs coirmãos sempre fizeram o mesmo. Quando a receita diminui, a regra é simples: tem que diminuir as despesas. Todos os CIEEs racionalizaram, economizaram, compraram melhor, adiaram investimentos e, com isso, felizmente, o sistema nacional está saudável, está em condições de recuperar todo o tempo perdido nesses dois anos.

Arnaldo Niskier: Quais são as principais inovações que você busca na sua gestão?

José Augusto Minarelli: Estou muito feliz com os desafios que encontrei pela frente de encontrar um CIEE robusto, forte, mas em uma situação, em um ambiente diferente. O CIEE, por muitos anos, não teve concorrência. Hoje o CIEE tem muitos concorrentes. O CIEE viveu muito bem num modelo mais analógico do que digital. E como o mundo muda, o CIEE também precisou mudar. Nesse sentido, a contribuição que tenho dado é de juntar as forças dos vários CIEEs existentes, são sete ao todo, o de São Paulo e os autônomos. Dessa forma, graças à sinergia dos recursos humanos, do prestígio da marca e das atividades meritórias de assistência social, o CIEE tem vencido a crise, crescido e feito a lição de casa, que é inovar. Quando fui eleito, encontrei um Conselho Consultivo composto das pessoas que trouxeram o CIEE até o presente momento. Essas pessoas que foram fundadoras e deram grande contribuição, com o passar do tempo e da vida, envelheceram e já não podiam dar a mesma contribuição. Além disso, o mundo não espera, vai se transformando e passamos a precisar de novas competências.

Arnaldo Niskier: Fala-se muito em CEBAS. O que é o CEBAS que tanto incomoda o sistema dos CIEEs?

José Augusto Minarelli: CEBAS é a sigla do Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social. E entidade de assistência social pode se beneficiar de imunidade tributária, o que reduz muito o custo da sua operação. É preciso ter uma atividade de natureza social, socioassistencial e educacional, ter registros nos órgãos de assistência social das prefeituras, prestar contas e ter governança para merecer esse certificado, que é renovado a cada gestão. Então, o CIEE, felizmente, é reconhecido por esse certificado em todos os estados. E para dar sustentação a esse compromisso, quando comecei a gestão (que foi a pergunta anterior), precisei fazer algumas alterações. Temos governança. Governança é uma exigência para que uma entidade do porte do CIEE tenha uma administração profissional, séria, transparente, com aplicação dos recursos ganhos comprovados. Comecei mudando a estrutura do Conselho de Administração, que é um dos órgãos da governança. Esse conselho era composto de advogados e homens. Pela primeira vez, inclui duas mulheres não advogadas, profissões diferentes para ter ângulos diferentes. Trouxe um antigo estagiário, agora já aposentado, que trabalhou numa grande organização industrial, internacional e que é conselheiro de grandes organizações. Trouxe um advogado trabalhista, mantive o empresário de longa data de segmento industrial. E para o Conselho Consultivo, que é o Conselhão de 25 pessoas, trouxe mais mulheres. Hoje somos, aproximadamente, 50% homens e 50% mulheres e de profissões distintas, inclusive de algumas atividades de ponta. As atividades de ponta estão ligadas à inovação e à transformação digital, as quais estamos em processo acelerado de implantação.

Entrevista transmitida em nível nacional, no Programa Identidade Brasil, apresentado por Arnaldo Niskier no canal Futura