Dia Internacional da Língua Portuguesa

Os geminianos, criaturas nascidas no signo de Gêmeos, ditos mercurianos, que perambulavam pelos meandros da mitologia grega, representados pelas divindades denominadas Castor e Pólux, denominados diáscoros, filhos de Zeus e Píndaro, marido de Leda, de Esparta, na ambivalência da imortalidade das deidades e na finitude dos mortais, foram guindados como protetores dos navegantes da Grécia Antiga, uma vez que participaram da expedição dos Argonautas. Os desdobramentos mitológicos permeiam estórias infindáveis da deificação milenar de nosso orbe, a projetar as figuras míticas dos gêmeos, protetores dos marujos em alto-mar, a usarem elmos donde espargiam raios de santelmo, luminescência com resplendor de brilhantes faíscas branco azuladas.

O fogo de santelmo personifica os entes protetores, perante às tempestades marítimas, que marcaram a extraordinária saga lusitana, frente ao domínio dos altos-mares, a gerar uma ocupação telúrica, que, no dizer de Felipe II – “o sol não se punha no Império” –, ao dimensionar a grandeza de Portugal no contexto das navegações.

Nascida no tálamo do Condado Portucalense, a língua portuguesa ganhou, então, foro de mundialidade, perpassou os séculos como uma verdadeira língua franca, nos moldes do grego, do latim, do francês e do atual inglês, e permitiu que o geminiano Fernando Antônio Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa, em 13 de junho de 1888, pudesse afirmar, de forma antológica, que: “A minha Pátria é a minha língua.” Mais, ele disse em seu poema Mar Português:



“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”


Atualmente, o idioma de Luís Vaz de Camões, nativo de 221 milhões de pessoas, é a sexta língua mais falada no mundo, após mandarim (918 milhões), espanhol (460 milhões), inglês (379 milhões), hindi (341 milhões), bengali (228 milhões). Depois, seguem russo (154 milhões), japonês (128 milhões), Punjabi Ocidental (93 milhões), marata (83 milhões), observando-se o numeral de falantes nativos, conforme a Word Tips (Ethnologue: languages of the world/2020). Se observarmos a classificação pelo total de falantes, incluídos não nativos, teremos: inglês (1,132 bilhão), mandarim (1,117 bilhão), indi (615 milhões), espanhol (534 milhões), francês (280 milhões), árabe (274 milhões), bengali (265 milhões), russo (258 milhões), português (234 milhões) e indonésio (199 milhões), prenotando-se que Portugal (10 milhões de falantes nativos), representa menos da metade da população da cidade de São Paulo e só 4,27% de todos os falantes da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa – CPLP, formada por nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé Príncipe e Timor Leste.

A Organização das Nações Unidas – ONU, em 1945, escolheu cinco línguas oficiais: inglês, mandarim, espanhol, francês e russo, e, depois, acrescentou, em 18 dezembro de 1973, o árabe. A Academia de Letras de Brasília, além do vínculo científico com a Academia das Ciências de Lisboa, sempre manteve um liame cultural com a CPLP, a desfraldar a bandeira da entidade lusófona, em todas as suas cerimônias, e demonstrar total integração, promovida pelo então presidente-embaixador Murad Murargy –, incansável líder, que sempre prestigiou Brasília, a nova Capital do Brasil. Celebremos o Dia Internacional da Língua Portuguesa no mundo! Vivam Portugal e seu povo, ordeiro e valoroso, que honram nossa ancestralidade!

Por José Carlos Gentilli - Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília.