Crônicas do Atibaia
A partir de uma
seleção de suas crônicas publicadas nas últimas quatro décadas na
imprensa de Campinas,
Sergio Castanho apresenta, em Crônicas do
Atibaia (Pontes Editores,
Campinas: SP, 2021), uma
visão arguta e sentimental de sua senda situando-a às margens do rio
Atibaia, ali radicando as
Atibáiades, ninfas do rio
Atibaia, que o inspiraram,
tal como fizeram as ninfas do Tejo – as Tágides
– a Camões, a colocar
por escrito seus sonhos
à margem do rio, magnificamente ilustrada a
capa de sua obra com
visão que delas pintou
Egas Francisco de Souza,
maior nome da arte pictórica na cidade que o rio
Atibaia abastece.
Sonhos que não afastam o autor da realidade cotidiana, da qual
extrai o lirismo das coisas simples, mas também não o distanciam de sua
formação acadêmica, professor e doutor que é em filosofia e história da
educação, que, em seu artigo O português e o alemão, expõe com precisão o relacionamento entre o grande vate de nossa língua – Camões,
de um lado, e de outro o filósofo Johann Gottliebe Fichte, separados por
duzentos anos, mas que têm um ponto comum no tratamento poético
de Camões do episódio de Inês de Castro, “rainha depois de morta”, que
Fichte proclama representante feminina do amor vitimado pela política, como Eugenie de Goethe também o foi. Oportuno foi, mostrando
o encadeamento lógico do autor, em artigo posterior, quando expõe
a forte tradição literária que caracteriza Alemanha e Portugal, ramificações do mesmo tronco linguístico, o indo-europeu, proveniente o
alemão do ramo germânico-ocidental e o português do ramo itálico do
indo-europeu, em especial do latim, traçando o paralelismo de ambas
as línguas através dos tempos, que ambas as línguas, em sua formação
quanto na feição de suas literaturas foram mutuamente influenciadas,
dando como exemplo os trovadores, em terra lusa, com o rei D. Diniz e
Walther von Vogelweide em terras germânicas com os Minnesang (cantos de amor), lembrando ainda que Camões, o grande artesão da palavra, foi saudado por Ezra Pound como “o Rubens do verso”.
Obra de leitura agradável e de linguagem escorreita, edificante se
torna ela nos dias atuais, quando a digitalização, ao que parece, torna
enfadonho o ler e o pensar, perdendo-se o encantamento da poesia.