Lendas do mar

“Quanto menos El Rey espera, mais eu chego, noite alta, madrugada, manhã cedo, na nau catarineta da quimera.” (Trecho do poema “Um fado cego”, de Donne Pitalurgh.) Eis-me, em silêncio, diante do mar. O marulho, os arrecifes, as gaivotas e essa brisa. No horizonte, no distante horizonte, grandes cavalos marinhos, monstros medievais, góticos unicórnios voadores, o fantasma de Diogo Cão na luz noturna do fogo de Santelmo. E naus, galeões, caravelas, que chegam de Portugal, a mando d’ El Rey, para quem é pouco tanto mar, além do Cabo das Tormentas. O que me traz aventura e fantasia, nesse vazio horizonte azulado, são lendas do mar-oceano, suas borrascas, temporais, naufrágios, para além da vida já vivida e para além da morte, que não tarda, com suas foices de aço toledano.

Por Danilo Gomes - Membro da Academia Mineira de Letras