Roberto Carlos outra vez
Neste primeiro volume da biografia Roberto Carlos Outra Vez:
1941-1970 (Editora Record), Paulo Cesar de Araújo parte de extensa e
minuciosa pesquisa em documentos, arquivos, acervos e depoimentos
para narrar o começo da vida e da carreira daquele que é chamado de
“Rei”, da infância de menino pobre no interior do Espírito Santo ao
estrelato.
Pela profundidade e consistência do estudo, a quantidade de personagens históricos envolvidos, a vastidão do repertório musical citado
e a extrema sensibilidade e conhecimento do autor sobre o protagonista, o livro vai além da biografia do artista mais popular da história da
nossa música: trata-se também de um painel cultural do Brasil durante
o período de formação do “Rei Roberto Carlos”, desde a infância, nos
anos 1940, o início da carreira, na década seguinte, até sua consagração
definitiva, na virada dos anos 1960 para 1970.
Autor de Roberto Carlos em detalhes (2006), alvo de disputa judicial que abriu caminho para a histórica decisão do Supremo Tribunal
Federal sobre a liberação de biografias não autorizadas, Paulo Cesar de
Araújo volta ao seu biografado mais ilustre com esse livro, totalmente
refeito, que faz um casamento muito original entre as canções mais
conhecidas e cada etapa da vida do artista.
A obra é repleta de informações e histórias inéditas, curiosidades
e detalhes incríveis, inclusive sobre como nasceram e foram gravados
hits como Jesus Cristo, Sua estupidez, Quero que vá tudo pro inferno, É
preciso saber viver, As curvas da estrada de Santos e Como é grande o
meu amor por você.
Na página 137, um episódio que merece destaque. O autor explana
as reuniões do grupo de artistas, de que também faziam parte Erasmo
Carlos e Carlos Imperial, entre outros, quando foram criados os fundamentos da Jovem Guarda. O nome do nosso diretor-presidente, Arnaldo
Niskier, na época diretor da revista Sétimo Céu, do Grupo Bloch, é citado
com um fato que merece o devido registro histórico. Convidado pelo
acadêmico para figurar numa das primeiras fotonovelas brasileiras,
Roberto Carlos aceitou e foi o ator principal de Assim quis o destino. A
empreitada foi plenamente vitoriosa e o registro não poderia deixar de
ser apontado num estudo biográfico dessa relevância.
Reconhecido internacionalmente como um ícone romântico,
a imagem que o livro compõe é a de um artista singular, capaz de
influenciar o comportamento da juventude, nos anos 1960, e os rumos
da música brasileira, impulsionando desde o movimento tropicalista
de Caetano Veloso e Gilberto Gil até vertentes mais populares, como o
brega e o sertanejo.
Nesse primeiro volume, vemos o jovem Roberto iniciando-se na
bossa nova, depois astro do rock – dos musicais de televisão e do cinema. Com o parceiro Erasmo Carlos e outros que se tornariam grandes
nomes da música, estabeleceu as bases para o rock nacional. A Jovem
Guarda influenciaria o comportamento da juventude e a forma como
a sua trilha sonora seria feita no país, alçando o cantor a um nível de
sucesso inimaginável – “uma beatlemania à brasileira”, que provocaria
debates, polêmicas e passeatas contra a guitarra. Até que, no início dos
anos 1970, um novo Roberto começa a surgir – conforme poderá ser
visto, em breve, no volume 2, traçando a trajetória humanizada de uma
figura icônica e inseparável da vida de todos os brasileiros.
O autor
Baiano de Vitória da Conquista, Paulo Cesar de Araújo, formado
em história pela UFF e em jornalismo pela PUC-RJ, é cidadão honorário
de Niterói/RJ, onde reside, desde 2007. Especialista em música popular
brasileira, além de Roberto Carlos em detalhes (Planeta, 2006), é autor de
Eu não sou cachorro, não (Record, 2002), obra que revelou a censura à
música brega durante a ditadura militar. Escreveu também O réu e o rei,
best-seller sobre o seu embate judicial com Roberto Carlos. Atualmente
é professor da rede Faetec e do departamento de comunicação social da
PUC-RJ.