Aprendizagem, a solução para os “nem-nem”

Sem perspectiva no mundo do trabalho ou nos estudos, milhões de jovens brasileiros sobrevivem entre subempregos e ajuda financeira dos pais. A pandemia piorou ainda mais essa realidade, com mais 800 mil pessoas tornando-se “nem-nem”, ou seja, aqueles jovens que não estudam e não trabalham. Infelizmente, a expressão significa que temos hoje o número estarrecedor de 12,3 milhões de jovens nessa condição, segundo a consultoria IDados. Não é concebível que o país continue a conviver com esta realidade.

É urgente o fortalecimento de iniciativas como a Lei da Aprendizagem (Lei nº 10.097/2000), responsável por dar alento aos jovens entre 14 e 24 anos incompletos em situação de vulnerabilidade social, combatendo a evasão escolar e o trabalho infantil. Criado há mais de 20 anos, o programa tem mostrado a capacidade de se ajustar a novidades, como no Ensino Médio integral. Nesse caso, representado pelo itinerário formativo simbolizado pela letra “V”, voltado para a formação técnica e profissional, o programa é uma possibilidade de aumentar o número de aprendizes resguardados pela premissa do ensino teórico associado ao ensino prático, e a permanência nos bancos escolares.

Com foco nessa perspectiva, o CIEE se uniu a outras entidades para a construção do Fórum da Juventude pela Educação. O grupo entende que, embora representativo, o contingente atual de 470 mil aprendizes em todo país – dados do Caged –, está longe do ideal. Mas a aprendizagem nos prova que a resposta a esse número ainda reduzido está ao nosso alcance. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha mostrou que ao menos 43% dos egressos da aprendizagem estão cursando nível superior, média maior do que a nacional. A cada quatro egressos, três não integram mais o grupo “nem-nem”. Além disso, ao menos 93% deles concordam totalmente que o estudo é o melhor caminho para a realização profissional.

Já um levantamento feito pela FIPE, demonstrou que o programa impulsiona a economia com o volume de renda dos aprendizes chegando a R$3,26 bilhões, impactando direta e indiretamente o PIB em R$7,9 bilhões, considerando números de 2017. Entretanto, atualmente, os estados convivem com uma média de 2% de aprendizes contratados, longe da cota mínima de 5% estabelecida por lei.

É preciso aliar investimentos em educação e empregabilidade. Essa cruzada começa no Congresso Nacional, onde o Projeto de Lei 6494/19 tramita com o propósito de instituir o novo estatuto da aprendizagem, e perpassa ações contundentes na esfera empresarial. Apenas assim, e não por um protagonismo moldado por promessas, será possível ofertar mais oportunidades aos jovens.

Por Humberto Casagrande - CEO do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE.