Homenagem a Lya Luft

A morte de Lya Luft causou comoção no meio literário, na imprensa e nas redes sociais, com a manifestação de diversas pessoas e autoridades. Em nota, a Academia Rio-Grandense de Letras lamentou o ocorrido e lembrou que a escritora havia recebido, há poucas semanas, o título de Escritora do Ano 2021, pelo conjunto da obra.

Uma das mais importantes escritoras contemporâneas, a gaúcha Lya Luft morreu na madrugada do dia 30 de dezembro, em sua casa em Porto Alegre, aos 83 anos de idade. Ela lutava contra um melanoma (câncer de pele) há sete meses. Autora de 31 livros e vencedora de vários prêmios, Lya nasceu no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul (RS). Filha de descendentes alemães, desde cedo, aprendeu o idioma dos ascendentes e desenvolveu o hábito da leitura, decorando poemas de Goethe e Schiller, entre outros. Terminou os estudos na capital Porto Alegre, onde se formou em Pedagogia (1960) e Letras Anglo-Germânicas (1962), ambas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS).

Quando terminou os estudos, começou a trabalhar para editoras, traduzindo obras de autores de língua inglesa e alemã, como: Doris Lessing, Günter Grass, Hermann Hesse, Reiner Maria Rilke, Virginia Wolf e Thomas Mann. Costumava afirmar que sua principal aspiração como tradutora era aproximar o escritor estrangeiro do leitor brasileiro, o que exigia equilíbrio entre a fidelidade ao original e a criatividade.

Dedicou-se, também, à atividade jornalística, como colunista regular de veículos como o Correio do Povo e a Revista Veja. Entre 1970 e 1982, trabalhou como professora de Linguística, na Faculdade PortoAlegrense. Em 1975, obteve o título de mestre em Linguística pela PUCRS, e, em 1978, em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

Em 1959, aos 21 anos, conheceu o linguista Celso Pedro Luft, com quem se casou quatro anos depois. Da união, nasceram três filhos: Susana (1965), André (1966) e Eduardo (1969). Em 1985, aos 47 anos, separou-se do marido, indo viver com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, que morreria três anos depois. Em 1992, retomou o relacionamento com Celso Pedro, enviuvando em 1995. Em 2017, sofreu um baque com a perda de seu filho André, vítima de uma parada cardiorrespiratória, aos 51 anos. Atualmente, estava casada com o engenheiro Vicente de Britto Pereira.

Produção Literária



Os primeiros poemas de Lya Luft foram escritos no início dos anos 1960, sendo reunidos, posteriormente, no livro Canções do Limiar (1964). O segundo livro (também de poemas), Fruta Doce, foi lançado oito anos depois, em 1972.

Em 1978, lançou a primeira coletânea de contos: Matéria do Cotidiano. Dois anos depois, publicou o primeiro romance, As Parceiras, seguido por A Asa Esquerda do Anjo (1981). O terceiro romance, Reunião de FamíLya (1982), foi lançado três anos depois, nos EUA, sob o título de The Island of the Dead.

Em 1996, a coletânea de ensaios O Rio do Meio foi considerada a melhor obra de ficção do ano, recebendo o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 2001, recebeu o Prêmio União Latina de Melhor Tradução Técnica e Científica, pelo trabalho realizado na obra Lete: Arte e Crítica do Esquecimento, de Harald Weinrich.

Em 2013, recebeu o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, com a obra O Tigre na Sombra, publicada no ano anterior e eleita a melhor obra de ficção do período. Lya Luft será sempre reconhecida e lembrada pelo público e crítica por sua luta contra os estereótipos sociais. “Apesar das minhas fragilidades, avanço. A vida é um processo. É como subir uma montanha, mesmo que, no fim, não se esteja tão forte fisicamente, a paisagem visualizada é melhor”, afirmava com sabedoria.

Por Maria Cabral