Conversa para quase um poema em prosa

Ele desejou um voo de centelhas
com outros amigos
que pareciam pássaros.
Alguém falou em desengano?
É que ave livre não aceita conchavos
nem o percurso de sempre
na geografia de um céu com favos
a tremular o lábaro de 27 estrelas.

E houve permuta de interesses?
Falou o velho mendigo à porta da igreja.
Indagação óbvia para quem viu a flor azul.
Ah, há muitas espécies de seres!

Quem tem de obedecer pensa na mesa com pão,
no vil metal que Adão conquistou pela Serpente?

O Pão é sagrado, dizia minha avó,
jovem viúva aos 27 anos,
católica feliz de batismo e de vida,
mãe de um casal de filhos
que alegraram no lugar de seu pendão natal
muitos dias ao sabor do rio, da lagoa e do mar
entre pescadores, manguezais e navios.
Ali nasceu a Fábrica de Tipity e seu engenhoso
fundador, o Barão Ludwig Von Kummer –
sua luta por uma Áustria Livre –
procedente dos Habsburgos.
Eu não vi o primitivo Sertão Sanjoanense.

Saibam, porém, aqueles que me ouvem:
a vida pulsa pela fome.
E o soldo do fraco Adão,
fulge mais que o pão?

Come migalhas o homem de qualquer Além sem nome.

Ó Gênesis da hora amarga do Criador!
Comerás do pão com o suor do teu rosto?

Ó passante que conheci pelo caminho!
Foi providência do céu ou armadilha do Anjo decaído?
Forças ocultas têm ofuscado a esperança da tua firme
querença.

Viva és tu, João do deserto,
do mel silvestre
e dos gafanhotos!
Daquela fonte do Rio Jordão
cedeu o Batista ao Cristo
que também o redimiu.
Da tua cabeça decepada
mil mártires marcharam contigo
com suas palmas da vitória
e fecundam silenciosamente hoje
o coração da Igreja,
do teu Cordeiro amigo e anunciado por ti,
a tirar o mal e a vilania do mundo inerte.

Vejam agora, amigos meus, a multidão
sob a benção Urbi et Orbi.
Florescem continuamente as flores brancas
na Terra Santa,
onde um Pedro escolhido
sofreu o branco martírio
na cidade de Roma, eterna.

Campos de concentração abomináveis!
Câmaras de gás pérfidas!
Grita um infante pio de 12 anos com sua boina
e jornais na mão.

Mas quem esperaria sobreviventes que com lágrimas
cantariam
e carregariam seus feixes?

E o levita teimoso acreditava no voo de centelhas.

Por Pe. Silmar Fernandes - Curador da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro.