Cedros
Os cedros são árvores imponentes, imensas, agrupadas como broches verdes.
Cones majestosos que se espalhavam pelas montanhas da
região mediterrânea. Suas altas folhagens buscavam o sol total, enquanto suas raízes se encharcavam nos regatos. Dos seus troncos sagrados,
saíram navios, altares e templos. Testemunharam impérios, religiões e
raças. Por tudo isso, a bandeira do Líbano traz ao centro o cedro como
símbolo nacional. Nada poderia mesmo se comparar à grandeza desse
cedro. Aves do céu se aninhavam em seus ramos, animais eram gerados
sob sua copa. Quando o cortaram, a nação cobriu-se de preto e terrível
foi o som de sua queda.
Hoje o cedro é comum e encontra-se por todo mundo em parques, jardins e avenidas. Há uma cidade de Mato Grosso do Sul que
ficou famosa por causa de um pé de cedro: Coxim, município da parte
norte do Estado, dominada antigamente por índios das etnias Carapó e
Bororó. Aliás, “cojin”, em língua bororó, significa “peixe”. Coxim é ponto
de pesca, com rios, cachoeiras, serras, lindas paisagens.
O compositor, Zacarias Mourão escreveu a letras da emblemática
canção “Pé de cedro”, que começa assim: “Foi no belo Mato Grosso, há
vinte anos atrás/ Naquele tempo querido que não volta nunca mais/
Nas matas onde eu caçava, um pequeno arbusto achei/ levando pra
minha casa no meu quintal eu plantei.” O menino partiu para longe,
para amar e sofrer. Quando voltou ao seu lar, reencontrou o pé de cedro
crescido, frondoso. Chorou de mágoa e de saudade de um tempo passado, o tempo mágico da infância, agora revivido.
Zacarias (1928-1989) viveu em Petrópolis, Rio de Janeiro, mas não
se adaptou por lá. Resolveu morar em São Paulo, onde se tornou Policial
Rodoviário. Cursou também jornalismo na Faculdade Casper Líbero. Foi
radialista, produtor, empresário, diretor da Rádio Bandeirantes. Ganhou
diversos prêmios em festivais de música sertaneja. Gravou sucessos com
as Irmãs Galvão, Tibagi e Miltinho, Dino Rocha, entre outros. Algumas
de suas músicas: “A Estrela que surgiu”, com Mário Albanese, “Alvorada
de Coxim”, com Jorge Castello, “Cantar de Seriema”, com Nízio. Os títulos
revelam a profunda ligação com sua terra e com o universo.
Retornou a Mato Grosso do Sul, que era seu maior sonho, em
1981, sempre trabalhando em rádio e TV. Oito anos depois, teve a vida
interrompida numa madrugada fria. Aos 61 anos, foi encontrado morto
dentro de casa, com uma facada na altura do coração. O assassinato
permanece misterioso e não esclarecido até os dias de hoje.
Depois dessa tragédia, foi erguido em Coxim um busto de Zacarias
Mourão, perto do pé de cedro. Outros cedros foram plantados na praça
pública, espaço comunitário e local turístico.
O muralista e streetart, Eduardo Kobra (1975), que tem obras por
países como Estados Unidos, França, Rússia e Itália, criou um painel:
entre mosaicos multicoloridos, o retrato realista do rosto de Zacarias
Moutão e um braço suspenso, tocando eternamente as cordas de um
violão.
Não se esquecerá jamais que um poeta, comovido e abatido, regou
com lágrimas e sangue as raízes dos cedros aromáticos que crescem
naquele portal pantaneiro.