Novembro, 2021 - Edição 273

Parasitas, vermes e políticos

Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.
Eça de Queiroz

A Língua Portuguesa apresenta os dois mais importantes escritores do século XIX: Machado de Assis, em Aquém-mar, e Eça de Queiroz, em Além-mar – ambos argutos, singelos e universais, a abranger o universo multifário e transoceânico das Letras do Condado Portucalense. Singulares na crítica social, no humor e na ironia de cunho docente, professoral, a pontificar o realismo pós-romântico.

Os políticos deveriam ler O Crime do Padre Amaro, de Eça, e reflexionar acerca de um aforisma que permaneceu no tempo, qual seja: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.”

Afirmou ele, ainda: “Não tenha medo de pensar diferente dos outros, tenha medo de pensar igual e descobrir que todos estão errados.” Mais, disse – “O riso é a mais antiga e terrível forma de crítica”. Trago à baila um tertius – Afonso Henriques de Lima Barreto, um filho de escrava, rejeitado pela Academia Brasileira de Letras, por três vezes…

Vivemos tempos de insanidade grupal sob o comando do Major Quaresma, alagoano doentio, a enfrentar simbolicamente o republicano Floriano Peixoto e sua grei. Criatura desnorteada a estudar inutilidades sob o apanágio da loucura e da insensatez, como afirmaria Lima Barreto em sua magna obra, post mortem, O Triste Fim de Policarpo Quaresma.

O triste fim se aproxima e Lima Barreto permanece atual ao relembrar que os loucos de todo gênero, que eram grupados e ilhados no extinto artigo 5º do Código Civil brasileiro (1916), monumental obra de Clovis Beviláqua, estão livres e soltos dos manicômios oficiais a perambular pelos ínvios caminhos da Política. Eis o pensamento de Lima Barreto:

“Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.” (Lima Barreto – Triste Fim de Policarpo Quaresma).

Por José Carlos Gentilli