Novembro, 2021 - Edição 273

Os eflúvios de Eros

Mas vos, godo Quijote, ilustre y claro, Por Dulcinea sois al mundo eterno, Y ella, por vos, famosa, honesta y sabia.
(El Caballero del Febo a Don Quijote de la Mancha – Soneto – Prólogo 1ª parte)

Lança na mão, com decisão, avança o cavaleiro.
– Cavalga, ó gentil cavaleiro,
siga vendo o que os outros
não veem ou não querem ver,
pois com a alma você vê.

Levando sonhos e amando
fiel e valente o cavaleiro
pelos caminhos vai,
seja em Rocinante levando ilusões,
seja em Clavilenho às estrelas chegando.

– Cavalga, gentil guerreiro, animando os corações
de sanchos e de taberneiras.
– Cavalga gentil amante,
herói do amor,
cavaleiro de ilusões,
pois vê o que não veem.

– Cavalga, cavalga
com hastes, pás, ou asas.
pois sonhar é doce.
É doce o amor do cavaleiro sofrido.
O mel é doce e mais doce é
Dulcineia,
a flor das donzelas.

Avança o cavaleiro e uma voz rouca
e ofegante
se ouve pelos campos manchegos
Dulcineia! Dulcineia!
O cavaleiro sonha.
Na alma sofrida do valente
se movem dragões e bruxas
e frágeis donzelas.

Sua fronte ferve.
O suor a umedece,
mas na fronte do herói
nasce um lírio.
Esborrifa na fronte a luz do amor.
Chega a paz.

Por Ester Abreu Vieira é presidente da Academia Espírito-santense de Letras.