Novembro, 2021 - Edição 273
A Gravata, a liturgia e a pandemia
A gravataadereço de vestimenta masculina,
tem origens várias,
desde priscas eras
até a presente data.
A moda e as
roupas guardam
uma ambivalência, prevalente, a
demarcar o universo masculino e
feminino, caracterizadoras de poder
e beleza, enfeixando castas, realezas,
cleros e outros segmentos sociais, através dos tempos.
Isto foi, é, e não sei se será, futuramente. O Tempo dirá!
Qual teria sido a razão do uso da gravata? Ora, simples e cristalino! Senão,
vejamos!
Exemplaridade comportamental em função de dois fatores, quais sejam
a formalidade e o poder, que regem o status societário e a ordem universal, pois
manda quem pode e obedece quem tem juízo, conforme o adágio popular.
Quanto ao mais, debitemos à conta do mundo da emulação, a relembrar-se a
figura icônica do Rei Sol – Luís XIV –, que adotou o uso da “cravate”
lançada por um grupo do exército croata, durante a Guerra dos Trinta Anos,
fato disseminador, à época.
A gravata já foi sudário, já foi símbolo militar a feitio das dragonas a ornar
os ombros dos militares, a indicar postos e graduações, em todas as principais
civilizações.
A liturgia-serviço público ou serviço do povo, em grego, dito também
ofício religioso, era a denominação encontradiça na Bíblia dos Setenta, anterior
à Vulgata, a designar os atos religiosos dos sacerdotes levíticos no Templo de
Jerusalém.
Este adereço do vestuário, metamorfoseou-se sob a égide da liturgia,
gerando o clérgima, dito colarinho clerical, a diferenciar os clérigos e o povo
em geral, ou seja, o mundo secular. Em síntese, a gravata transmutou-se para o
colarinho clerical, no princípio uma whitetie (faixas de pregação), ao ser inventado pelo Reverendo Donald Mcleod, em 1827, atualmente usado pelas Igrejas
Católica e Ortodoxa e demais vertentes anglicanas.
Vê-se, assim, que a gravata é um mero símbolo de poder!
Encontramo-nos, hoje, frente aos rigores mortais de mais uma pandemia
que o mundo está a enfrentar, ciclicamente, como foram outras como a peste
bubônica, a peste negra, a varíola, a cólera, a gripe espanhola, a gripe suína,
além da invencível Aids, que não subjugaram a gravata e seus nós górdios.
Todavia, a atual Covid-19 tem apresentado variantes sucessivas, obrigando a população ao sistêmico uso de máscaras protetivas, constituindo-se em
verdadeira inovação ao mundo ocidental, medida cautelar esta, entretanto, há
décadas utilizada por países asiáticos.
Agora, além da gravata, o homem terá alterado o seu visual, passando
as máscaras a compor uma nova realidade, sob o condão da sanidade grupal,
atingindo a esfera feminina no seu contexto de embelezamento feminino.
Queiramos ou não, este componente está a transformar hábitos e formas
de viver, não só sob a égide do poder e formalidade, mas sim ao talante da incolumidade humana.
A verdade é que as pandemias e males terrestres jamais extinguirão a
gravata e suas variantes, porquanto este adereço modal está ungido ao poder
soberano da vaidade humana, inscrita em Eclesiastes, em frase bíblica assim
enunciada: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade (vanitasvanitatum et omniavanitas).
O resto são borboletas de todo gênero a borboletar..