Julho, 2021 - Edição 269

Manifesto: escreva o seu obituário enquanto há tempo!

Tive o privilégio de conversar há alguns dias com um jornalista do Wall Street Journal que se especializou em escrever obituários. Ele faz isso há 30 anos. Perguntei a ele: “o que os biografados notáveis tem em comum?” Resposta: “otimismo e resiliência.”

Segundo o dicionário, “um obituário é um registro necrológico veiculado nos meios de comunicação social”. Alguns autores reconhecem o obituário como um dos mais nobres produtos do chamado jornalismo literário. Um obituário é mais que uma notícia, é mais que um artigo, é mais que um currículo. É a mais sublime reflexão sobre uma vida.

Um obituário acontece após uma perda. Mas eu o definiria como a síntese do que ganhamos com uma vida. “Se perdermos algo, não percamos a lição”, disse o Dalai Lama. A única certeza que temos sobre a vida é que não sairemos vivos dela. Cabe a nós encontrar o sentido, o desenho escondido, a arqueologia da nossa essência, a soma e síntese das escolhas. A minha inclui algumas certezas e muitas dúvidas.

Dúvida, dádiva da vida... Eu tinha dúvidas sobre escrever meu próprio obituário. Mas tenho certeza de que nunca terei meu obituário publicado no Wall Street Journal ou aqui. Então... dane-se. Ninguém vai ler, mas já o escrevi.

Outra certeza é de que “a vida é feita de momentos”, como disse Borges. Portanto, não vejo um obituário apenas como grandioso tributo final. A vasta maioria dos nossos momentos são frívolos, insignificantes e rotineiros.

Ao mesmo tempo, há coisas únicas sobre nossas vidas que só nós sabemos.

Já que “do pó viemos e ao pó retornaremos”, é importante ressaltar também o que nos faz comuns, humanos, e únicos, não apenas as gloriosas exceções que nos elevam. Um obituário – para ser respeitado e autêntico – não pode virar peça de marketing. Portanto, escreva seu obituário! Hoje, aqui, agora. Ou quando quiser. Nada fará você refletir mais sobre a sua própria vida do que tentar resumi-la em 300 palavras. E depois vá corrigindo o rascunho, palavra por palavra, a cada novo dia. Edite-se, sendo. Otimismo e resiliência ajudam.

Por Jonas Rabinovitch - Arquiteto, conselheiro sênior da ONU para Inovação e Urbanismo, Nova York