Março, 2021 - Edição 265

Museu do Holocausto em Portugal revive a memória da tragédia

A inauguração oficial do Museu do Holocausto em Portugal, na cidade do Porto, o primeiro na Península Ibérica – e que deveria coincidir com a comemoração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto – foi adiada, devido ao surto, cada vez mais intenso e preocupante, do Covid-19. Portugal tornou-se um dos países com mais mortos por milhão de habitantes e, ao mesmo tempo, com maior taxa de contágio na Europa.
Instalado na zona do Campo Alegre e construído pela Comunidade Judaica do Porto, liderada por Dias Ben Zion, a concretização do projeto contou com a colaboração do Museu do Holocausto de Washington, que disponibilizou arquivos referentes a refugiados que, durante a Segunda Guerra Mundial, passaram pelo Porto. Também recebeu um donativo de uma família sefardita portuguesa do Sudeste da Ásia, vítima de um campo de concentração.
Uma cerimônia restrita que teve a presença de representantes da Comunidade Judaica, do presidente da Comunidade Muçulmana e do Bispo do Porto permitiu conhecer o acervo deste Museu do Holocausto. Para exposição permanente, encontram-se documentos oficiais, testemunhos, cartas e centenas de fichas individuais. Também se destacam, no conjunto, dois Sifrei Torá oferecidos à sinagoga do Porto por refugiados que chegaram à cidade com as suas vidas desfeitas. Entre os objetivos prioritários do museudestaca-e o investimento na área do ensino e no apoio da investigação, para a formação profissional de educadores, a promoção de exposições, realização de conferências, de colóquios e outras iniciativas culturais e cívicas. Hugo Vaz, curador do Museu do Holocausto, considera que – ultrapassada a grave crise sanitária que determinou o encerramento oficial de todos os estabelecimentos de ensino, desde o pré-primário ao universitário – se possam realizar visitas de estudo. Assim, admite que se registre significativa afluência pois, antes da pandemia, “cerca de 10 mil alunos por ano costumava visitar a Sinagoga”.
Outras personalidades da Comunidade Judaica do Porto, como Dara Jeffries, reconhecem que “importa ensinar o Holocausto em Portugal. Na escola, meu irmão e eu éramos os únicos judeus. O tema nunca era abordado nem ensinado, e poucos sabiam o que tinha sido o Holocausto”.
Por seu turno, Jonathan Lackman deseja seguir, no Porto, através do museu, “o papel que os avós tiveram nos EUA para a preservação da memória do Holocausto”. “O meu avô fugiu de Treblinka e a minha avó foi resgatada com tifo do campo de Bergen-Belsen, no norte da Alemanha, onde faleceu Anne Frank. Contarei sempre a história deles”, declarou.
Para o presidente da Organização de Direitos Humanos B’naiB’rith International, Charles Kaufman, o novo Museu do Holocausto no Porto, a abrir ao grande público em data a noticiar, oportunamente, representa um testemunho da herança e resiliência judaicas, que vai “servir de farol para Portugal e para o resto da Europa”. É, portanto, mais um decisivo contributo para reviver uma memória de horror que não pode ser apagada.

Por Antonio Valdemar