Março, 2021 - Edição 265
Aprendiz, eficaz passo inicial na qualificação profissional
Numa economia pressionada pela necessidade de reduzir gritantes falhas na
qualificação da força de trabalho – tanto para melhorar os indicadores de produtividade quanto para viabilizar a inclusão social do enorme contingente de brasileiros
despreparados para o mercado de trabalho –, o maior desafio não é escolher entre
as diversas soluções apresentadas por setores, autoridades e especialistas preocupados com a questão. O verdadeiro nó a desatar é como calibrar as propostas que
são colocadas na mesa, de forma a atender a diversidade das pessoas que devem
ser qualificadas, tanto no aqui e agora quanto para o futuro.
A meu ver, boa parte das sugestões propostas nesse sentido é pertinente.
Entretanto, elas pecam por serem pontuais, ou seja, cada uma tem foco num
segmento do enorme contingente de mais de 40 milhões de brasileiros que estão
desocupados, entre os quais 14 milhões de desempregados e o restante composto
por aqueles que desistiram de procurar uma vaga. Apenas esses números brutos,
levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sinalizam
para a importância de organizar e debater um projeto nacional de qualificação
profissional escalonado por etapas, de maneira que sejam atendidas as condições
e demandas de cada um dos segmentos que integram a diversificada força de trabalho do país.
Nela estão incluídos, entre outros, veteranos com formação superior ou com
larga experiência, mas defasados; trabalhadores em busca de novas habilidades
para conseguir promoção ou aumento de salário; estudantes recém-saídos da
universidade sem experiência prática; jovens que concluíram ou abandonaram o
ensino médio, e que exerceram, na melhor das hipóteses, uma atividade informal,
e por aí vamos.
Ou seja, a própria realidade aponta para a importância de somar soluções
escalonadas para desatar o antigo e resistente nó da precária qualificação do trabalhador brasileiro. Mesmo sem grandes análises, não é difícil constatar que, na
corrida por emprego, o segmento jovem sai com grande desvantagem. Boa parte desse grupo é composta por jovens de baixa escolaridade, que sequer atendem aos
requisitos básicos das atuais funções do mundo corporativo, seja por deficiências
comportamentais – hoje altamente valorizadas –, seja por falta de competências
técnicas mínimas que os habilitem a se candidatar, com alguma margem de segurança, até a vagas mais simples.
Ponto dos mais interessantes é que programas existentes revelaram eficácia,
que poderá ser reforçada com a integração deles no desafio de aprimorar a formação do profissional, tanto para se manter ou se reinserir quanto para ingressar no
mundo do trabalho. Ou seja, são iniciativas que não devem ser vistas como excludentes, mas, sim, complementares. Focando especificamente no segmento dos
jovens ávidos por conseguir o primeiro emprego, a experiência do CIEE indica que o
programa de aprendizagem, moldado de acordo com a Lei nº 10.097/2000, funciona
como uma espécie de “cursinho pré-vestibular” para o futuro profissional.
Isso porque, graças à capacitação teórica alinhada à prática de uma função
na empresa, a aprendizagem bem conduzida corrige deficiências comportamentais
(as soft skills) e elimina algumas das falhas do ensino escolar. Para se ter ideia de
que grupo estamos falando, basta citar que muitos dos atuais ou ex-beneficiados
aprenderam, nas nossas aulas de capacitação teórica, a se vestir de acordo com
o ambiente corporativo, a adotar práticas diárias de higiene pessoal, a atuar em
equipe, a administrar as finanças familiares, a seguir recomendações para ter uma
vida saudável, entre outros conhecimentos. Nossa grade de cursos para aprendizes
inclui, ainda, matemática básica, introdução à informática, comunicação escrita e
oral, orientação de carreira, entre outros conteúdos – tudo sempre permeado por
estímulos à continuidade da formação escolar e ao aprendizado contínuo.
A percepção desse cenário mostrar o valor da aprendizagem como o primeiro e fundamental passo na preparação dos jovens para o sucesso das próximas
etapas de uma eficaz formação profissional, algumas tão sofisticadas que preveem
até envio do beneficiado ao exterior – o que exigiria candidatos com avançado
desenvolvimento pessoal e educacional. É uma boa proposta, embora evidentemente restrita a um pequeno número de jovens. Nossa experiência, confirmada por
pesquisas independentes, mostra, muitas vezes, que esse primeiro passo dá impulso para que um expressivo número de jovens avance por conta própria. Por exemplo, estudo do Datafolha revela que 43% dos milhares de egressos do Programa de
Aprendizagem do CIEE nos anos de 2016 e 2017 estavam matriculados em cursos
superiores.
Esse é um dos mais relevantes resultados da aprendizagem, na perspectiva
dos jovens. As empresas contratantes também colhem frutos, como a atração, a
formação e a retenção de capital humano de qualidade. Mas, sem dúvida, quem
ganha mais é o país, que passa a contar, investindo pouco, com crescente número
de trabalhadores mais qualificados, motivados e formados como cidadãos.