Fevereiro, 2021 - Edição 264
Álvaro Pacheco e Francisco Miguel de Moura: O Tempo e os Fantasmas
Venho proclamar louvores aos tesouros sentimentais oriundos do interior
do Piauí. Refiro-me aos escritores da minha predileção: Álvaro Pacheco e Francisco
Miguel de Moura.
Ambos nasceram no ano de 1933 e são membros efetivos da centenária
Academia Piauiense de Letras (APL), sendo Álvaro, um filho ilustre da cidade de
Jaicós, e Francisco, de Picos.
São dois brilhantes intelectuais que fizeram história e literatura. Estão vivos e
consagrados. São os maiores nomes da poesia piauiense. Donos de obras literárias
valiosas e elogiadas por gente de proa deste Brasil.
Álvaro Pacheco foi senador da República e jornalista, participante da reformulação do Jornal do Brasil em 1956, ao lado de Reynaldo Jardim (1926-2011),
Ferreira Gullar (1930-2016), Carlos Castelo Branco (1920-1993) e Mário Faustino
(1930-1962). Era editor e proprietário da Artenova, que publicou livros seminais e
em primeira edição, de autores excepcionais como Clarice Lispector (1920-1977) e
João Ubaldo Ribeiro (1941-2014).
Francisco Miguel de Moura faz parte de uma geração que repensou o Piauí
das letras dos anos 1960, composta por Herculano Moraes (1945-2018), Hardi Filho
(1934-2015) e Tarciso Prado (1938-2018). Escritor completo, Chico Miguel, como é
carinhosamente conhecido, é romancista, contista, cronista e crítico literário.
A poesia de Álvaro Pacheco e de Francisco Miguel de Moura está mergulhada no despedaçamento da dor humana. Os poetas trabalham com temas caros à
essencialidade da existência: tempo, memória, morte e o esvaziamento da eternidade. Além disso, impressionam pela impecável riqueza da linguagem.
Álvaro Pacheco é daqueles artistas que fascinam pela terrível pulsação da
sensibilidade. É um predestinado que oferta a sangria das suas experiências e a
força da sua alma evoluída: “Guardei muitas lembranças para o meu manuscrito /
e inumeráveis eventos gravaram nele seus autógrafos: / talvez seja esse / meu único
legado.”
O ritmo lírico de Álvaro Pacheco intensifica os instantes, os gestos, a solidão,
os sonhos, a geometria dos ventos, a epifania das estrelas e os itinerários da própria vida. Poeta de energia selvagem, que faz, do seu dom, uma mística do encantamento: “A dor da alma conheci demais e meu corpo / poupou-se pelos medos
incontáveis.”
Francisco Miguel de Moura é um ser admirável. Homem simples e generoso,
que tenho o privilégio de conhecer de perto.
Os tons da poesia de Chico Miguel têm uma fluidez peculiar e muito inteligente, que agregam um universo mágico e passional: “Sou perfume de mim e odor
do mundo/ para que a terra me cuspa.”
Íntimo dos sonetos, as imagens e as águas do seu discurso são uma busca
incessante pela beleza: “Tu brincavas na areia, ondas salgadas / vinham quebrar-se
nos teus pés sem pejo.”
Destaco que Álvaro Pacheco e Francisco Miguel de Moura estão presentes
em uma clássica coleção da poesia brasileira intitulada 50 Poemas Escolhidos pelo
Autor, das Edições Galo Branco, do Rio de Janeiro, que contempla nomes importantes como Anderson Braga Horta, Gilberto Mendonça Teles, Lêdo Ivo, Carlos Nejar,
Antonio Olinto, Antonio Carlos Secchin, A. B. Mendes Cadaxa, Astrid Cabral, Emil
de Castro, Gabriel Nascente, Afonso Henriques Neto, Ives Gandra Martins, Lina
Tâmega Peixoto, Lourdes Sarmento, Darcy França Denófrio, Diego Mendes Sousa,
Marcus Vinicius Quiroga, José Inácio Vieira de Melo, dentre outros notáveis.
Álvaro Pacheco apareceu no volume 17 (no ano de 2006), enquanto Chico
Miguel de Moura, no volume 65 (no ano de 2013).
Álvaro Pacheco e Francisco Miguel de Moura são valores da poesia da atualidade que merecem aclamação pela qualidade e quantidade da produção e, sobretudo, pela inestimável elevação da cultura literária em nosso país.