Fevereiro, 2021 - Edição 264

Sequências

Não é o tempo
que envelhece.
Nós que envelhecemos
o tempo. Depois o tempo
nos envelhece e ele fica
jovem, entretecido.
Depois é que enverdecemos.
E começa conosco
outra civilização.
A partir da infância.
Derrubamos os escombros,
para que as pedras
sejam em novo espaço
ajustadas. É quando
as instituições são
como jarros na sacada.
E o tempo volta a envelhecer
sem tréguas. Posto em ataúde
sob a terra inerme, desvanecida.
E o tempo morre sem reconhecer
os nossos mortos. Morre
de mão única. E como quem
morre não é o tempo, somos
nós, não gravamos sequer
um epitáfio. Pois toda
a civilização não passa
de uma erosão da memória.

Por Carlos Nejar - Escritor e membro da Academia Brasileira de Letras.