Fevereiro, 2021 - Edição 264

Foi assim

Quem ia já não foi, ficou
O tempo parou na porta de
Do portão para dentro ficamos
Presos em nossas gaiolas de concreto e aço
Forças ocultas, susto, destino?
Não, surto generalizado
Cada um em seu quadrado
Dentro do medo de ser contaminado
Cadê a algazarra dos meninos?
Cadê o bêbado e o afinador de facas?
Cadê as crianças brincando nas praças?
Cadê o entregador de pão, o vendedor de ovos?
Cadê o casal de idosos sentado no banco?
Cadê a tarde toda prosa? Cadê, cadê?... Cadê todo mundo?
Fronteiras fechadas, ruas vazias, praias desertas...
Fez-se distante o aconchego dos braços
Desfez-se o laço e no vazio do espaço
A saudade invadiu nossas salas
A vida fez pausa, o vírus foi a causa
O silêncio do silêncio incomoda, faz barulho
Ficou escuro no claro do dia
De repente sem aviso, tudo mudou
O mundo girou mais lento, sobraram assentos
No ônibus, no restaurante, no metrô...
A máscara dividiu o rosto em duas partes
Da metade para cima os olhos nem sempre presentes
Da metade para baixo o sorriso escondido, ausente
E foi assim tão de repente, apressadamente
Que um ser microscópico virou de cabeça para baixo a vida da gente

Por Peilton Sena - Membro da Academia Santista de Letras