Fevereiro, 2021 - Edição 264

A dimensão de Machado de Assis

O escritor e crítico espanhol Antonio Maura, sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, esteve no Cairo para a conferência “El autor y sus máscaras: Una aproximación a Cervantes y Machado de Assis” (“O autor e suas máscaras: Uma aproximação de Cervantes e Machado de Assis)”, no Instituto Cervantes local.

Segundo palavras proferidas na palestra, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), o grande gênio da literatura brasileira, não foi devidamente valorizado pela crítica e mereceria ser reconhecido como um dos melhores escritores do século XIX: “Acho que Machado é um dos grandes nomes do século XIX. Não acredito que se compare nem a (Charles) Dickens, (Honoré de) Balzac, Eça de Queiroz ou ao nosso (Benito Pérez) Galdós. São grandes escritores, mas estão abaixo nos quesitos riqueza, crítica e análise da sociedade e versatilidade. Maura ressaltou ainda que, fora de suas fronteiras, o escritor brasileiro é pouco conhecido.

Na opinião do crítico espanhol, até mesmo no Brasil os estudos sobre Machado de Assis “não refletiram bem” sua faceta de grande crítico do sistema de sua época e da escravidão. Para Maura, o cronista e poeta teve que recorrer à ironia para falar “na surdina” de um tema que não podia ser encarado abertamente por ele ser neto de escravos. Um exemplo disso é Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).

A escolha do nome do protagonista, que coincide com o início do nome do país, “não é à toa” para alguém tão “inteligente e cuidadoso com a linguagem” quanto era Machado de Assis. Para Maura, “a crítica brasileira foge” desta interpretação porque “não é fácil aceitar que seu país é um país morto ou esteve morto”. O crítico espanhol defende que as obras que o romancista e dramaturgo escreveu depois de Memórias Póstumas, como Dom Casmurro ou Quincas Borba, são dos livros “mais importantes de sua geração, não apenas do Brasil, mas de todo o mundo”. Segundo ele, alguns autores de língua espanhola, como Jorge Edwards, Julián Ríos e Carlos Fuentes, destacaram a importância de Machado de Assis, mas o mestre brasileiro ainda carece do merecido reconhecimento mundial.

Por Maria Cabral