Janeiro, 2021 - Edição 263

Homenagem a Joseph Safra

A morte do banqueiro Joseph Safra foi recebida com pesar não só no setor financeiro como em toda a sua legião de amigos e admiradores.
Fundador do Banco Safra, ele morreu aos 82 anos, de causas naturais, no dia 10 de dezembro de 2020. Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que Safra foi “um exemplo como empresário e filantropo”, com contribuições marcantes para escolas, museus e instituições no Brasil e no exterior: “O legado de sua atuação no desenvolvimento da economia nacional ficará sempre marcado na história do Brasil, país que ele adotou 58 anos atrás”, afirmou a entidade.

Joseph, ou “seu José”, como era chamado pelos mais próximos, era o bilionário brasileiro mais rico, com uma fortuna estimada em 17,6 bilhões de dólares (cerca de 89,8 bilhões de reais segundo a taxa de câmbio da agência de notícias Bloomberg). No ranking mundial, ficava na posição 101.


Origem

Joseph Safra nasceu em 1938, em Beirute, no Líbano, dentro de uma família judaica com mais de um século de experiência no setor bancário. Suas origens também estão na cidade de Alepo, na Síria, onde seu pai Jacob Safra nasceu.

Muito antes de pensar em ter filhos e se mudar para o Brasil, Jacob viveu na tradicional cidade do norte sírio, ponto de confluência dos três continentes e rota das caravanas que capitaneavam o comércio terrestre entre o Ocidente e o Oriente.

Aos 23 anos, Jacob foi enviado pelo tio Ezra Safra a Beirute, no Líbano, para abrir uma filial do Safra Frères & Cie, que pertencia à sua família desde meados do século XIX. Fundou um novo banco em 1920.

Dessa vez com seu nome: Banco Jacob E. Safra. Ampliou, assim, as atividades da família, no Oriente Médio, ficando famoso por converter rapidamente os valores entre diversas moedas para seus clientes. Casouse com Ester Teira Safra e ter nove filhos. Entre eles, nasceu Joseph. Jacob Safra decidiu deixar o Líbano e partir para a América Latina.

Escolheu o Brasil. Em 1952, instalou-se com a família em São Paulo,cidade que abrigava uma grande colônia sírio-libanesa. Mas a família Safra não veio completa para a capital paulista. Joseph foi concluir o segundo grau na Inglaterra. Depois disso, seguiu para os Estados Unidos, para trabalhar no Bank of America. Só em 1962, após uma passagem pela Argentina, ele se juntou a seu pai e irmãos, no Brasil, para tocar a instituição financeira fundada cinco anos antes.
Inovações Com a experiência de mais de um século como banqueiros, a família Safra trouxe ao Brasil técnicas já aplicadas em mercados financeiros mais desenvolvidos, como o do Oriente Médio, mas ainda estranhas ao mercado nacional.

Entre as inovações, trouxeram o uso da letra de câmbio como meio de financiamento para operações e davam rendimento ao dinheiro em suas contas, em um primórdio da conta remunerada – hoje utilizada por diversas instituições e bancos digitais.

A estabilidade e o conservadorismo do Banco Safra – oficialmente fundado em 1967 com o nome de Banco de Santos – atraiu parte da riqueza paulistana e ganhou a fama de ser o “banco dos banqueiros”. Seu lema era uma frase de Jacob: “Se escolher navegar os mares do sistema bancário, construa seu banco como construiria seu barco: sólido para enfrentar, com segurança, qualquer tempestade.” Para Joseph, a manutenção da reputação e da solidez do Safra era a alma do negócio.


Arte e filantropia

A sobrenome Safra é reconhecido no mundo da filantropia. A família distribui parte de sua fortuna em iniciativas na medicina, nas artes, dentro e fora da comunidade judaica.
Joseph foi um dos principais doadores dos hospitais paulistanos Albert Einstein e o Sírio-Libanês, além de apoiar associações beneficentes como a Fundação Dorina Nowill para Cegos, o GRAAC, a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, a Associação de Assistência à Criança Deficiente, a APAE e a Casa HOPE.

Na cultura, o banqueiro, por meio do Instituto J. Safra, doou esculturas de Auguste Rodin, Aristide Maillol e Camille Claude à Pinacoteca de São Paulo, patrocinando exposições e eventos de artistas brasileiros. Também fez doações para escolas judaicas e sinagogas, além de ter patrocinado um livro que resgata as raízes das famílias judaicas que deixaram o Oriente Médio para se instalar no Brasil.
Para o governo de Israel, Safra adquiriu e doou o manuscrito original da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, exposto em um museu de Jerusalém.

Por Maria Cabral