Dezembro, 2020 - Edição 262
O centenário clube alemão de Pernambuco
Final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, imigrantes alemães chegaram ao Estado de Pernambuco e se estabeleceram como nos ensinou o mestre
geógrafo Tadeu Rocha: “entre colinas terciárias sedimentares desde a ponta de
Olinda ao norte, os Montes Guararapes e o Cabo de Santo Agostinho ao sul.” Os
alemães fundaram, no Recife, em 1920, a primeira sede do Clube Alemão, na Rua
do Progresso. Muitos dos jovens viajantes casaram com moças pernambucanas.
Ao passar dos anos, a sede se tornou pequena. Em parque de exuberante vegetação, na Estrada do Encanamento, 216, foi construída a nova sede do Klub Alemão,
(Deutscher Klub), dando boas-vindas às atividades esportivas, sociais e culturais.
Foram famosas as festas da cerveja, a Oktoberfest ganhou adeptos e admiradores. As decorativas canecas, delas, muitos fizeram coleções. O Clube Alemão
festejou seus joviais 90 anos no dia 4 de novembro de 2010. Recebeu da Câmara
Municipal do Recife significativa homenagem, em Sessão Solene regida pelo presidente Sr. Alfredo Mariano. O vereador Inácio Neto foi o autor do projeto, justo
e indiscutível.
Na esfera ambiental do Clube Alemão, Mauro Mota, aos domingos com
amigos depois das longas caminhadas nas preferidas praias de Olinda, aportava
ao Clube Alemão para um chopinho, antes do almoço, a desfrutarem daquele
espaço, de bem viver com amigos inesquecíveis, entre eles: o presidente Hans
Nebiker, o também presidente Adolf Klaus Fritz Kiendem, os sócios Gilberto
Freyre e Madalena. José Castelo Branco Chamixais com Alba e familiares. Sem
esquecer o velho alemão, Sr. Hirschle, que implicava com as peraltices da meninada.
Guardo o diploma de Sócio proprietário de Mauro Mota, datado de 22 de
agosto 1968, o de Benemérito (In memoriam) de 1988. Também fui generosamente contemplada com o título de Sócia Benemérita.
Impossível esquecer a convivência por anos, com amigas que participaram
das tardes de lazer às sextas-feiras, para divertir-nos fazendo crochê, tapeçarias.
No Clube Alemão, sentávamos à sombra de um pequeno arvoredo: Zeneide
Menezes, Lúcia Loureiro, Denize Fernandes, Enilda Klaus Heloina Nebiker, Lenita
velho, Ione kienden, Tereza Mairink, Indalie Falcão, Regina Morais, mãe, do excelente médico e figura humana Maurício Mena. De alguma casa da vizinhança,
chegava até nós o som do piano, com a música do compositor Liszt, em “A Benção
de Deus na Solidão”. Guardei aquele momento com sentimento espiritual, como
quase tudo que guardo da vida.
Quando menina em Bom Jardim, fiz o meu curso primário no Colégio
Santana, de freiras alemães. Guardei afetuosa memória da madre Ilduara, que
carregava, no bolso do pesado hábito preto, um leque com gravuras de santos,
paisagens, para quem tirasse boas notas. Numa dessas escolhas, vendo-me vacilante, mostrou-me uma paisagem: “Essa é a minha cidade.” Fiquei com a imagem de Heidelberg, na memória, anos depois fui a Alemanha, andei nas ruas de
Heidelberg e encontrei algo que chamou minha atenção. Um recanto ajardinado
com estátuas entre canteiros de violetas, gerânios, um esplendor de azuis, rosas
e lilases. Ali, uma rua se anunciava: Thomas Mann, sem tempo disponível para
fotos. Naquela época, não havia máquina digital, um dia eu volto lá. Quem sabe?
A esperança tem sido a melhor coisa na vida. Escreveu Thomas Mann.
Diz Adélia Prado: “Alguns já perderam os seus olhos de criança. Os meus,
num passe de magia, ali estiveram entre Heidelberg e minha cidade de Bom
Jardim.
Os agradecimentos à Academia Luso Brasileira de Letras do Rio de Janeiro,
ao Presidente Adolpho Polillo, à secretária-geral, Maria Amélia Paladino, acadêmicos, por elegerem-me membro correspondente da nobre instituição e à amiga
escritora e acadêmica Sonia Sales, que gentilmente me representou na posse, em
noite festiva.