Dezembro, 2020 - Edição 262

Educação na pandemia

Não restam dúvidas sobre os males causados pelo coronavírus no mundo, abalos na saúde, na economia, nas atividades sociais, no turismo, enfim, algo surpreendente que transformou o ano de 2020 em período que nunca será esquecido.

No campo da educação, é um ano para ser abandonado. Os governos e os gestores não conseguiram encontrar caminhos, tanto no ensino virtual como no presencial. É importante refletir sobre a pandemia considerando-a não como caso único, mas buscando em experiências análogas formas de enfrentar o inimigo, seja ele de que natureza for. Vejamos o exemplo da segunda grande guerra quando, entre 1941 e 1943, países como Polônia, Noruega, França, Inglaterra, Rússia, entre outros enfrentaram a destruição de muitas cidades pela agressão da Alemanha nazista e da Itália. Como os países enfrentaram questões complexas em meio a invasões de soldados inimigos, bombas, artilharia, tanques, vale a pena considerar.

Senão vejamos, a Polônia, em meio às perseguições nazistas, criou a Educação Secreta, com aulas sem grade curricular, nos porões das residências de Varsóvia que, com o tempo, foram eliminadas pelos nazistas durante a perseguição aos judeus. A França destinou alguns recursos orçamentários para padres Jesuítas e Dominicanos ministrarem aulas não curriculares nas igrejas. Com a invasão alemã que tomou conta de Paris, sediando o comando alemão no Hotel Le Maurice, o melhor de Paris, o programa foi descontinuado. Em outros países, várias experiências foram tentadas, mas sem sucesso. A Inglaterra usou espaços pequenos das fábricas para aulas e a Noruega buscou experiências locais. No final da guerra, com a entrada dos EUA e a vitória dos aliados, as mulheres assumiram o controle e responsabilidade de promover o ensino às crianças, ainda que entre milhares de homens, mortos ou mutilados. Os novos gestores da educação decidiram retirar os anos de 1941 a 1944 do calendário escolar e recomeçar de onde haviam parado. Em poucos anos, tudo fora corrigido e aprimorado, atingindo novamente os elevados padrões de qualidade, hoje admirados pelo mundo. Estudos recentes sobre a gripe espanhola também apontam os caminhos encontrados para promover a educação em tempos difíceis, como está revelado no livro de Heloisa Starling e Lilia Schwarcz, A Bailarina da Morte.

Voltando ao momento atual, no Brasil, a pandemia paralisou, de fato, as aulas regulares em 2020, e a expectativa é de que somente depois da vacina tudo poderá ser retomado. As demais tentativas de reabertura de aulas presenciais ainda são ações perigosas, do ponto de vista sanitário. Resta, portanto, a providência de, ao final do ano de 2020, retirá-lo do calendário educacional. As atividades virtuais, com ampla utilização dos recursos tecnológicos e das mídias digitais, realizadas com sucesso, em algumas escolas de elite e nas residências das classes mais favorecidas, serão excelente apoio ao recomeço da nova vida escolar. Às escolas públicas, mais desfavorecidas, devem ser investidos recursos para atualizá-las tecnologicamente e, assim, abreviar o atraso dos seus estudantes. Não há outro caminho sem vacina.

Por Roberto Boclin - doutor em Educação, membro da Academia Brasileira de Educação, presidente da Academia Internacional de Educação e diretor da Associação Brasileira de Educação. roberto.boclin@gmail.com