Dezembro, 2020 - Edição 262
Aprisionada pela memória
O mar se descortina
num calmo combate
com as claras areias.
A visão de sua ondulante superfície,
dos pescadores na areia
e dos navios ao longe,
longe de dar-me calma à alma
faz nascer
um mar de lágrimas
e de tenebrosos furacões
derrubando a pretensa vontade de vencer,
a terrível maratona
que a vida me organizou.
Ouvindo o ruído das vagas e
do próprio sangue jorrando em turbilhão,
peço ao justo Deus clemência
por estar viva em uma morte viva.
Viver!
Viver sem ser e ser sonhada,
enquanto o mar se agita,
é um irmanar a Tântalo...
Ah! Pobres dos náufragos da vida que, como eu,
vendo o mar retomar seu eterno ritmo,
recomeçando sempre,
não o imitam e se sucumbem à dor!...
Sísifo em sua ação,
o mar nos dá a grande lição da força tenaz de reiniciar....
Mas...
Tem o mar memória?