Novembro, 2020 - Edição 261
Louise Glück conquista o Prêmio Nobel de Literatura 2020
Nobel de Literatura de 2020 por sua “inconfundível voz poética,
que, com uma beleza austera, torna universal a existência individual”.
Glück é a primeira mulher poeta a receber o Nobel, desde a polonesa
Wislawa Szymborska, em 1996.
A autora é considerada uma das poetas mais talentosas da sua
geração. Sua primeira obra, Firstborn (1968), a fez ser aclamada como
uma das poetas mais destacadas da literatura contemporânea dos
Estados Unidos. Nascida em Nova York, de família judia, possui graduações na Faculdade Sarah Lawrence, em Yonkers (Estado de Nova York) e
na Columbia University. Atualmente, é professora da Universidade Yale.
Ainda inédita no Brasil, alguns poemas de sua autoria foram publicados,
em 2016, no jornal Rascunho, como o que transcrevemos a seguir:
“Hesitando em ligar”
Poema do livro Fishborn (1968), com tradução de André Caramuru Aubert.
Vivi para você me jogando
Fora. Aquilo pelejou
Como peixe na rede dentro de mim. Vi você pulsando
Em meus melados. Vi você dormir. E vivi para ver
Que tudo tudo foi pelo ralo
A recusa. Feita?
Ela vive em mim. Maligno.
Amor, você sempre me quis, não.
Ao longo de sua carreira, recebeu prêmios importantes, como o Pulitzer, em 1993, por sua coletânea The Wild Iris (A íris selvagem), e o National Book Award, em 2014. Em 2015, o presidente Barack Obama entregou a ela a Medalha Nacional de Artes e Humanidades.
Com livros como The Triumph of Achilles (1985) e Ararat (1990), Glück ficou conhecida fora dos Estados Unidos. O júri ressaltou também o valor de sua última coletânea, Faithful and Virtuous Night (2014). Mas a décima sexta mulher a levar o Nobel de Literatura não escreve só poesia, fazendo valer a força da predestinação do seu sobrenome. Glück, para quem não sabe, em iídiche, significa “inteligente”.
A escritora sucedeu os dois vencedores do ano passado, a polonesa Olga Tokarczuk (Nobel de Literatura 2018, ano em que não foi entregue o prêmio) e o dramaturgo e escritor austríaco Peter Handke (2019). Em 2017, a instituição que concede o prêmio Nobel se viu envolta num escândalo tão grande que a obrigou a suspender a premiação no ano seguinte. Em 2019, a entrega do prêmio a Handke, um autor cujas opiniões causaram repúdio na comunidade literária, por seu apoio ao líder sérvio Slodoban Milosevic durante a guerra da Iugoslávia, envolveram novamente a academia em polêmicas. Todos esses antecedentes levaram o prêmio deste ano a uma pessoa de reconhecido prestígio e que não gerasse polêmicas.
Até 2020, foram entregues 113 prêmios Nobel nesta categoria (apenas um deles concedido a um autor de língua portuguesa, José Saramago). Entre mais de uma centena de premiados, apenas 16 eram mulheres. A idade média dos vencedores é de 65 anos, sendo Ruyard Kipling o mais jovem (41 anos) e Doris Lessing a mais idosa (88 anos).
Entre os ganhadores recentes do Nobel de Literatura, se encontram, além dos dois do ano passado, Kazuo Ishiguro (2017, Reino Unido), Bob Dylan (2016, Estados Unidos), Svetlana Aleksievich (2015, Belarus), Patrick Modiano (2014, França), Alice Munro (2013, Canadá), Mo Yan (2012, China), Tomas Tranströmer (2011, Suécia) e Mario Vargas Llosa (2010, Peru).