Outubro, 2020 - Edição 260
Um pioneiro de Brasília
“A amizade é como um círculo e como um círculo não tem começo nem fim.” O sentido hermenêutico da frase de Machado de Assis se
aplica com toda propriedade ao sentimento que levou o acadêmico
José Carlos Gentili, membro da Academia de Letras de Brasília e da
Academia das Ciências de Lisboa a homenagear seu saudoso colega
Murilo Melo Filho, com a publicação do livreto Murilo Melo Filho – um
pioneiro de Brasília.
Circulando no texto publicado, além do pesar pelo falecimento do
colega (ocorrido no dia 27 de maio deste ano) e do elenco de inúmeros
adjetivos (“católico fervoroso, ícone do jornalismo brasileiro, fraterno amigo de uma falange imensa de sonhadores, primeiro membro
honorário da Academia de Letras de Brasília, parâmetro educacional
brasiliense”), Gentili faz questão de registrar o discurso proferido pelo
“extraordinário amigo” na Academia de Letras de Brasília, na ocasião do
Centenário de nascimento do jornalista Edilson Cid Varela, no dia 18 de
março de 2013, na sede do Correio Braziliense.
“Um país sem memória e tradição é um bando”, afirma Gentili,
então presidente da Academia de Letras de Brasília, que destaca a
importância de a cultura e a educação de uma sociedade pairarem
acima dos interesses políticos e de ideologias, navegando no universo
das ideias. Citando Sêneca, “O discurso é o rosto do espírito”, registra o
alerta de que devemos estar sempre vigilantes, “mostrando aos governantes, passageiros agônicos do mando, que cultura não se partidariza”.
Razão pela qual exalta o registro da publicação de um discurso até então
guardado no silêncio do baú: “Trazido à tona a fim de que os pósteros
tenham a noção exata da dimensão gigantesca deste operário das Letras
na consolidação de Brasília, capital da nação.”
Ilustrado com fotos de personalidades ilustres, da construção de
Brasília, de Juscelino Kubitscheck com a mãe, D. Júlia, o discurso narra
algumas das muitas histórias vividas pelo potiguar Murilo Melo Filho
junto com o homenageado, seu conterrâneo Edilson Cid Varela e suas
grandes obras (TV Brasília e Correio Braziliense): “Tínhamos os sonhos
próprios de jovens que, depois, emigraram de Natal, para, sozinhos,
enfrentar, no sul do país, os perigosos desafios da vida, tendo, diante de
nós, apenas uma opção e uma alternativa: vencer ou vencer.”
A trajetória de vida de ambos comprova que tudo valera a
pena. Triunfos e conquistas não faltaram na vida dos dois admirados
jornalistas. Murilo Melo Filho criou a seção “Posto de Escuta”, na
revista Manchete, onde escreveu durante 40 anos. Entre outros títulos,
integrou a Academia Brasileira de Letras, o Conselho Administrativo
da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a União Brasileira de
Escritores (UBE). Morreu aos 91 anos, deixando muitas saudades.
Legenda da Foto: Os casais Ruth e Arnaldo Niskier, Murilo Melo Filho e Norma, com o presidente Juscelino Kubitsckek,
que governou o Brasil de 1956 a 1960, numa época lembrada como um tempo de otimismo.