Junho, 2020 - Edição 256
Sabedoria imortal
Engenheiro de formação, Paulo Penido é de uma família mineira tradicional, um dos gestores da Serveng, empresa de engenharia com importante participação na construção de Brasília. A inauguração da capital do
país completou 60 anos este ano, evocando homenagens em todo o Brasil.
Penido participou também das obras do Santuário Nacional de
Aparecida e ajudou a construir a capela de Nossa Senhora Desatadora de
Nós, em Búzios, que já recebeu mais de 1 milhão de visitantes ao longo de
19 anos de existência.
No balneário carioca, financiou a instalação da escultura de JK, produzida pelo artista Hildebrando Lima, na Orla Bardot (futura Orla JK), em
frente ao “Solar do Peixe Vivo”, onde o ex-presidente se hospedava com a
família. Na inauguração, em 15 de março de 2006, proferiu um dos seus
mais belos discursos, com citações literárias, que reproduzimos, a seguir,
em homenagem do Jornal de Letras, também, ao fundador de Brasília. Vale
à pena a leitura, por tamanha atualidade e alcance de pensamento.
“Senhoras e senhores,
O espaço em que nos congregamos constitui arena singular para uma
profunda evocação da vida nacional do último meio século. Pois, significativamente, há quase 50 anos, Juscelino iniciava seu quinquênio presidencial de profundas transformações para a vida brasileira. A contraposição
daqueles anos com o presente evidencia alguns poucos ganhos substantivos e graves perdas de qualidade. Estas, particularmente, no âmbito da vida
política nacional.
Ao assumir a Presidência da República, Juscelino já gravara os traços fundamentais de sua carismática liderança. Como prefeito de Belo
Horizonte, sua atuação promoveu a metamorfose de uma modesta, ainda
que tranquila, cidade provinciana, em um marco arrojado da nova arquitetura e das artes plásticas brasileiras. Como governador do Estado de Minas,
firmou as bases de um modelo solidário e vigoroso de desenvolvimento
regional, cujo alcance e método, nas décadas vindouras, influenciariam o
próprio processo de desenvolvimento nacional.
Na presidência, Juscelino ampliaria tais experiências de competência
político-administrativa, a elas adicionando os traços, ainda mais sugestivos
de sua genialidade; da obstinação cívica, do espírito público, da paciência,
da tolerância. Esta última exercitada até o último minuto de seu governo,
pelo trato conciliatório e respeitoso de seus oponentes políticos.
Em retrospectiva, já se incorporaram à história brasileira moderna os
dados, estatísticas e indicadores que corroboram o êxito de um dos governos mais profícuos da história do Brasil. Seja pela vigorosa implantação de
infraestrutura, da produção de insumos básicos, da industrialização e da
reorganização do Estado
Vale, contudo, nesta oportunidade, uma imersão, além dos fatos tangíveis, no âmbito dos valores que a “República de Juscelino” cultuava.
Assalta-nos o fenecimento quase completo do espírito público do
qual Juscelino foi epítome! Agride-nos a transformação generalizada da
ação política em balcão escuso de negócios, em contraposição à “visão
Juscelínica” dos elevados propósitos coletivos e do bem comum! Insultanos o oportunismo, a deselegância, a impunidade, a mediocridade e o vazio
de ideias que permeiam a prática política nacional.
É por tudo isso e muito mais que este momento é especialmente
simbólico. Acredito, como Juscelino, que coragem é uma virtude contagiosa.
Mesmo em tempos de incredulidade, ceticismo e desespero, o gesto ousado
do homem corajoso pode afetar a espinha dorsal de muitos dos seus pares.
Como Juscelino o provou, os créditos da história pertencem àquele que se expôs na arena, marcado pela poeira, pelo suor e pelo sangue.
Aquele que conhece o entusiasmo das grandes devoções, aquele que se
entrega à causa digna. Aquele que, se vencedor, participa do arrebatamento das grandes conquistas. Ainda, aquele que, mesmo quando perseguido,
abalado e cambaleante, é combatente. E sabe que é assim porque ousou.
Juscelino assim ousou e mereceu, na visão do seu contemporâneo, J.
F. Kennedy, aquele nicho glorioso na memória, qual seja o lugar que jamais
será ocupado pelos espíritos frios, tímidos, irresolutos e corruptos, que
jamais conhecem seja a vitória, seja a derrota.
Na visão eloquente do seu amigo e colega Guimarães Rosa, Juscelino
não desapareceu, apenas encantou-se. Evocá-lo e pregar sua mensagem
existencial e política é uma bela e corajosa tarefa republicana.
Desvanecendo, encantando, transcendendo, de fato, ainda assim, ele
continua aqui conosco, na forma desta bela escultura do grande artista,
Hildebrando Lima.
Aqui, também está ele em espírito, à beira do mar, pois o
buscamos através do horizonte, que nos leva ao céu, a Deus, onde ele está.
Finalmente, um dado concreto para reflexão:
Juscelino, ao terminar seu governo em 1961, deixou o Produto
Interno Bruto (PIB) Nacional do Brasil igual ao do Japão, três vezes ao da
Coreia, nove vezes ao da China. Hoje, nos aproximamos dos países de PIB
mais pobres do mundo.
Terminando: a finalidade da vida é ser feliz. Ele nos trouxe felicidade e,
pelo seu ousar permanente e pelo seu entusiasmo, nos trouxe a paz, o progresso, a esperança e riqueza para o equilíbrio e o bem de todos brasileiros.”
Casado com a Lugar Tenente da Ordem Equestre do Santo Sepulcro
de Jerusalém, Isis, Paulo Penido morreu no Rio de Janeiro, deixando 2 filhos,
Rosa Karina e Paulo Júnior, além da neta, Maria Thereza.
“Na morte o homem torna-se imortal” (Mestre Victor Hugo).