Abril, 2020 - Edição 254
Novas Acadêmicas do Espirito Santo
A cerimônia de posse das escritoras capixabas Manoela Ferrari e Maria Inês Marreco,
na Academia-Feminina Espírito-santense de Letras, marcou a comemoração do Dia Internacional
da Mulher, na Assembleia Legislativa do ES. Presidida pela acadêmica Renata Bomfim,
a solenidade incluiu homenagens a mulheres com importantes serviços prestados nas causas
sociais, políticas e culturais. Em seu discurso de abertura, a poetisa e escritora destacou
o papel libertador da literatura: “Escrever, como ato criativo, foi a ferramenta das mais
audazes para burlar ou efetivamente romper fronteiras, estandarte que as capixabas ergueram
ao criar uma instituição congênere a dos homens de letras, em 1949, legitimando a luta para
ocupar um espaço literário por direito”, afirmou a presidente da Academia Feminina
Espírito-santense de Letras. O pioneirismo da primeira capixaba a publicar um livro
(Guilly Furtado Bandeira, em 1914) foi destacado. A autora de Esmaltes e Camafeus recebeu
homenagem póstuma: “Foi a segunda mulher do Brasil a entrar em uma Academia de Letras,
no Pará, em 1913”, revelou Renata Bomfim. Guilly completaria 130 anos em 2020.
A Academia também homenageou a presidente da Academia Espírito-santense de Letras Esther
Abreu Vieira de Oliveira, a procuradora de Justiça Catarina Cecin Gazele, a professora e
coordenadora do Coral Serenata Luciene Prates Chagas, a ex-deputada Luzia Toledo e a
escritora cariaciquense Zeni Klug Berguer, pelo exemplo de vida e superação cotidianas.
Portadora de deficiência física, Zeni escreve com os pés. Rejeitada pela escola na infância,
a autora de Pé no Chão é autodidata e superdotada de inteligência.
Posse As novas acadêmicas Manoela Ferrari e Maria Inês Marreco receberam o título de sócias
correspondentes por não morarem no Estado. Depois de fazerem o juramento, as escritoras
foram saudadas por integrantes da diretoria, que enalteceram seus currículos e obras já publicadas.
“É nosso dever caminhar empenhadas em assegurar às novas gerações o amparo da confiança que depositamos
na cultura, em
especial na literatura, capaz de acumular e registrar as características que nos tornam, essencialmente,
humanos”, afirmou a jornalista Manoela Ferrari. Com 17 livros publicados, a escritora lembrou o legado
dos pais – a pianista e fundadora da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, Sonia Cabral, e o jornalista
Marílio Cabral – em sua formação cultural: “Ao revisitar a historiografia de personalidades capixabas,
tais como Judith Leão Castello Ribeiro ou Guilly Furtado Bandeira, para citar apenas alguns exemplos,
é inevitável comparar o brilho e a extemporaneidade dessas pioneiras com o legado de lutas e conquistas
deixado por minha mãe, Sônia Cabral, no terreno da música erudita.
Pesquisando a obra e percorrendo a
trajetória dessas mulheres fantásticas, ouso apontar, sem pretensão e com plena convicção, as marcas
da garra e da determinação como traços que diferenciam a mulher capixaba. Portanto, o primado da
resistência feminina no Espírito Santo não pode fenecer”, salientou Manoela, que mora no Rio de Janeiro,
para onde se mudou em 1984, e é colaboradora do Jornal de Letras, desde 2004.
Maria Inês Marreco destacou as lutas das mulheres por espaço na sociedade. “Os papéis sociais e as
condições gerais das mulheres têm sido construídos a partir de um conjunto de pressupostos
de valores e de uma moralidade ética determinada previamente por uma perspectiva de dominação patriarcal”,
referindo-se à posição secundária historicamente ocupada pelas mulheres.
“Sabemos que a voz da mulher sempre foi silenciada, o que a impediu de desenvolver uma linguagem própria.
Façamos a travessia do invisível para o visível. Façamos com que o silêncio se transforme em fala”,
completou a doutora em literatura, pesquisadora e fundadora da Casa da Cultura Idea
(Inovação, Desenvolvimento, Educação e Arte) de Belo Horizonte.
Academia A Academia Feminina EspíritoSantense de Letras foi fundada em 16 de julho de 1949 por
Judith Leão Castello Ribeiro, professora e primeira deputada estadual do ES. A motivação da escritora
foi não ter conseguido fazer parte da Academia EspíritoSantense de Letras (AEL) que não admitia
mulheres no quadro. A AFLES, de caráter predominantemente literário, tem por finalidade reconhecer,
preservar e incentivar criações literárias em todas as formas, estilos e gêneros, estimulando o
exercício da Língua Portuguesa e da Literatura em todas as suas manifestações.