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Novas Acadêmicas do Espirito Santo
A cerimônia de posse das escritoras capixabas Manoela Ferrari e Maria Inês Marreco, 
								na Academia-Feminina Espírito-santense de Letras, marcou a comemoração do Dia Internacional 
								da Mulher, na Assembleia Legislativa do ES. Presidida pela acadêmica Renata Bomfim, 
								a solenidade incluiu homenagens a mulheres com importantes serviços prestados nas causas 
								sociais, políticas e culturais. Em seu discurso de abertura, a poetisa e escritora destacou 
								o papel libertador da literatura: “Escrever, como ato criativo, foi a ferramenta das mais 
								audazes para burlar ou efetivamente romper fronteiras, estandarte que as capixabas ergueram 
								ao criar uma instituição congênere a dos homens de letras, em 1949, legitimando a luta para 
								ocupar um espaço literário por direito”, afirmou a presidente da Academia Feminina 
								Espírito-santense de Letras. O pioneirismo da primeira capixaba a publicar um livro 
								(Guilly Furtado Bandeira, em 1914) foi destacado. A autora de Esmaltes e Camafeus recebeu 
								homenagem póstuma: “Foi a segunda mulher do Brasil a entrar em uma Academia de Letras, 
								no Pará, em 1913”, revelou Renata Bomfim. Guilly completaria 130 anos em 2020. 
								
							
								A Academia também homenageou a presidente da Academia Espírito-santense de Letras Esther 
								Abreu Vieira de Oliveira, a procuradora de Justiça Catarina Cecin Gazele, a professora e 
								coordenadora do Coral Serenata Luciene Prates Chagas, a ex-deputada Luzia Toledo e a 
								escritora cariaciquense Zeni Klug Berguer, pelo exemplo de vida e superação cotidianas. 
								Portadora de deficiência física, Zeni escreve com os pés. Rejeitada pela escola na infância, 
								a autora de Pé no Chão é autodidata e superdotada de inteligência.
								
								Posse As novas acadêmicas Manoela Ferrari e Maria Inês Marreco receberam o título de sócias 
								correspondentes por não morarem no Estado. Depois de fazerem o juramento, as escritoras 
								foram saudadas por integrantes da diretoria, que enalteceram seus currículos e obras já publicadas.
								 “É nosso dever caminhar empenhadas em assegurar às novas gerações o amparo da confiança que depositamos
								  na cultura, em                            
								especial na literatura, capaz de acumular e registrar as características que nos tornam, essencialmente, 
								humanos”, afirmou a jornalista Manoela Ferrari. Com 17 livros publicados, a escritora lembrou o legado 
								dos pais – a pianista e fundadora da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, Sonia Cabral, e o jornalista
								 Marílio Cabral – em sua formação cultural: “Ao revisitar a historiografia de personalidades capixabas, 
								 tais como Judith Leão Castello Ribeiro ou Guilly Furtado Bandeira, para citar apenas alguns exemplos, 
								 é inevitável comparar o brilho e a extemporaneidade dessas pioneiras com o legado de lutas e conquistas
								  deixado por minha mãe, Sônia Cabral, no terreno da música erudita. 
								  
								  Pesquisando a obra e percorrendo a 
								  trajetória dessas mulheres fantásticas, ouso apontar, sem pretensão e com plena convicção, as marcas 
								  da garra e da determinação como traços que diferenciam a mulher capixaba. Portanto, o primado da 
								  resistência feminina no Espírito Santo não pode fenecer”, salientou Manoela, que mora no Rio de Janeiro, 
								  para onde se mudou em 1984, e é colaboradora do Jornal de Letras, desde 2004. 
								  
								  Maria Inês Marreco destacou as lutas das mulheres por espaço na sociedade. “Os papéis sociais e as 
								  condições gerais das mulheres têm sido construídos a partir de um conjunto de pressupostos 
								  de valores e de uma moralidade ética determinada previamente por uma perspectiva de dominação patriarcal”, 
								  referindo-se à posição secundária historicamente ocupada pelas mulheres. 
								  “Sabemos que a voz da mulher sempre foi silenciada, o que a impediu de desenvolver uma linguagem própria. 
								  Façamos a travessia do invisível para o visível. Façamos com que o silêncio se transforme em fala”, 
								  completou a doutora em literatura, pesquisadora e fundadora da Casa da Cultura Idea 
								  (Inovação, Desenvolvimento, Educação e Arte) de Belo Horizonte.
								  
								  Academia A Academia Feminina EspíritoSantense de Letras foi fundada em 16 de julho de 1949 por 
								  Judith Leão Castello Ribeiro, professora e primeira deputada estadual do ES. A motivação da escritora
								   foi não ter conseguido fazer parte da Academia EspíritoSantense de Letras (AEL) que não admitia 
								   mulheres no quadro. A AFLES, de caráter predominantemente literário, tem por finalidade reconhecer, 
								   preservar e incentivar criações literárias em todas as formas, estilos e gêneros, estimulando o 
								   exercício da Língua Portuguesa e da Literatura em todas as suas manifestações.